65

787 81 86
                                    

"Eu amo ela, sabe? Acho que sempre amei, nas diversas formas de amar."

*

Quando pensou em voltar para a cama, ouviu o choro da sobrinha, que vinha do quarto ao lado. – Será que eles ainda estão lá embaixo? – Questionou com Maraisa, que deu de ombros.

– Não faço ideia. – Respondeu.

– É normal chorar desse jeito? – Indagou um pouco assustada, perguntando-se como alguém daquele pequeno tamanho, conseguia chorar tão alto?

– É. Provavelmente ela acordou, e não encontrou ninguém. Aproveita que você já está aí, e vá verificar. – Ao ouvir tal coisa, os olhos assustados de Marilia, cresceram.

– Eu? – Maraisa tentou não rir do tom medroso da pergunta.

– Sim, você. Anda logo. – Pensou em abrir a boca para reclamar e mandar Maraisa, mas sabia que não a convenceria, então destrancou a porta que tinha acabado de trancar e foi.

Ao abrir a porta do quarto do irmão, deparou-se com a sobrinha lá, sozinha. Ao acender a luz, viu que a menina estava sentada sobre o berço, e quando a mesma a viu, conseguiu chorar mais forte e mais alto do que já chorava. Quando Marilia lhe deu as costas para ir em busca de ajuda, esbarrou em Maraisa, que já estava por ali. Seus olhos aterrorizados pararam na namorada, que por algum motivo, continuava tranquila.

– Ela está chorando, faça alguma coisa. – Seus olhos assustados, junto com sua voz apavorada, fizeram Maraisa sorrir.

– Faça você alguma coisa. – Respondeu tranquilamente, aparentemente nada abalada com o choro estridente da bebê.

– Maraisa... – Tentou começar, mas foi impedida.

– Vamos lá, você tem que pegar ela. – Levou as mãos até a cintura da namorada, e a fez se voltar para a sobrinha. Como Marilia continuava parada, Maraisa a fez andar até lá. – Pegue ela. - Incentivou.

– Eu não sei. – Estava quase com vontade de chorar junto com a menina.

– Tudo bem se você fizer isso de um jeito desajeitado, Marilia. Apenas pegue. – Marilia respirou fundo, tentando puxar coragem junto com o ar, enquanto olhava para aquele ser tão pequeno que conseguia fazer tanto barulho.

– Faço ela ficar deitada em meus braços ou como? – Inclinou a cabeça para um lado, depois para o outro, tentando achar um ângulo para fazer aquilo. O máximo que já tinha segurado na vida, foi um filhote de cachorro.

– Não. Ela já superou a fase de ficar deitada. Segure com o braço direito, e coloque a mão esquerda nas costas. – Explicou. Marilia voltou a respirar fundo, concordou com a cabeça e com todo cuidado do mundo, como se de repente fosse desarmar uma bomba, ergueu a sobrinha. Fez o que Maraisa disse para fazer, com o braço direito à segurou e com a mão esquerda protegeu as costas.

– Assim? – Será que tinha um botão, onde conseguiria desligar o choro?

– Sim. Agora converse com ela. – Os olhos de Marilia voltaram a crescer, enquanto balançava a menina de um lado para o outro, tentando talvez acalma-la.

– O quê? – Não queria conversar, queria a entregar para Maraisa. Tudo bem, o choro tinha diminuído consideravelmente, mas ela ainda estava chorando. Além disso, não tinham o que conversar. Falariam sobre o quê? O tempo? A bolsa de valores? Os presidentes dos Estados Unidos? Que tipo de conversas se tem com bebês?

– Converse com ela enquanto caminham pelo quarto. – Até abriu a boca para reclamar, mas os braços cruzados de Maraisa, junto com seu semblante tranquilo, lhe diziam que a amiga não iria ceder. Vendo-se sem saída, Marilia começou a caminhar pelo quarto.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora