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"E quanto a Marilia, você a amou um dia, certo?"

*

– Você é a única que... - Maraisa não a deixou sequer terminar o pensamento, foi logo tratando de negar.

– Não. Eu não vou fazer isso. - Avisou e para sua surpresa, Marilia não insistiu.

– Claro que você não vai. Afinal, você é Maraisa Pereira, nunca volta atrás com sua decisões, por mais egoístas que elas possam ser. - Ao ouvir tal coisa, Maraisa arregalou os olhos em sinal de surpresa. - Bom, eu tentei. Vou lá avisar para o grupo que nossa peça está cancelada. Talvez ainda consigamos umas vagas como animais no teatro das latinas. Ou talvez possamos encenar a morte de Cristo. Vou me voluntariar a ser o Cristo, talvez você queria aparecer por lá para me dar umas chibatadas. - A morena lançou um olhar meio incrédulo, meio assustado para a loira que balançou a cabeça em sinal de negativo e lhe deu as costas. - Eles estão lá fora esperando por você, mas eles não podem viver só em função disso. Se não quer celebrar o natal, não impeça que eles o celebrem. - Falou por cima dos ombros antes de ir.

Maraisa ficou um tempo parada, sem acreditar na bronca que levou. Era ela, sempre foi ela a dona das broncas, não aquela loira metida, que ultimamente andava falando o que queria e depois simplesmente dava as costas e ia embora.

Balançou a cabeça em sinal de negativo, bufou, encarou o telefone, voltou a bufar e resolveu ir atrás de Maiara. Queria tirar a história da gripe repentina a limpo. Precisava ver se era verdade mesmo.

– Você estava bem hoje de manhã. - Foi esse o jeito com o qual Pereira, cumprimentou a detenta doente. Maiara sorriu e tentou falar um "oi", mas sua voz não saiu. - Por que eu devo acreditar que você ficou doente e perdeu a voz justamente hoje? - Questionou ao sentar-se do lado da ruiva, que suspirou e apontou para as caixas de remédio que tinha ganho.

– Me deixa ver. - A morena murmurou ao alcançar as caixas e começar a ler o nome dos remédios. Concluiu que sim, eram remédios para resfriado e febre. Ao abrir as caixas para verificar as cartelas, viu que todas elas já estavam sem um comprimido, ou seja, eram bem provável que Maiara estivesse mesmo doente.

A ruiva pulou da cama, foi até a mesa que tinha ali perto, pegou papel e uma caneta e voltou para cama, sentando-se ao lado da morena desconfiada.

"Obrigada pela confiança." Foi o que ela rabiscou na folha de papel, arrancando um sorrisinho da morena.

– Não leve a mal, eu não confio plenamente nem na minha sombra. - Admitiu. - E pelo o que eu lembro, você estava bem hoje de manhã. Um pouco gripada, um pouco rouca, mas com voz. - Maiara concordou com a cabeça, antes de voltar a rabiscar.

"Me disseram que se eu chupasse gelo, melhoraria. Sabia que não deveria acreditar naquelas latinas malditas." Ao ler tal coisa, Maraisa deixou escapar uma risada.

– Fiquei sabendo que papai Noel, virá nos visitar essa noite. Peça a ele sua voz de volta. Garanto que ele dará. - Debochou da companheira de cela, a fazendo rolar os olhos e cutucar com o cotovelo no braço da morena sem graça em sinal de protesto.

"Me chamar de burra daria menos trabalho." Escreveu. Maraisa sorriu e negou.

– Você não é burra, só confia demais nas pessoas. - Expressou seu ponto de vista.

"Eu confio em você!" Rabiscou fazendo a morena rolar os olhos, sabendo onde ela chegaria com aquilo.

– Não deveria. - Foi o que respondeu.

"Vai mesmo deixar a irmandade branca na mão?" Maraisa não respondeu, fez que não tinha lido e concentrou seus olhos nos pés, que balançavam para frente e para trás. "Isso tudo é realmente medo de beijar a loira sem sal?" Maiara pôs o papel na frente dos olhos da morena, para que ela não fingisse não ver. Maraisa sorriu sem humor ao ler tal coisa.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora