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— "Um abraço?"

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Maraisa desejava muito se sentir indiferente ouvindo aquilo, mas não estava conseguindo, seu coração batia cada vez mais forte, a cada palavra que Marilia pronunciava. - Eu não me permitia pensar sobre isso quando estava sóbria, porque eu tinha medo, medo de descobrir o que eu sentia por você. Medo de você me achar uma surtada e dar no pé. - Fez uma pausa para respirar. - E aí você como a corajosa da dupla, abriu a boca e se declarou. - A morena sentiu as bochechas arderem ao ouvir aquilo. - Em um primeiro momento eu fiquei muito surpresa, porque jamais imaginava ouvir aquilo de você. Sei lá... você sempre foi meio fraca para bebida, então na minha cabeça as coisas que quase aconteciam entre nós quando estávamos bêbadas, era por culpa da bebida. - Maraisa sorriu sem humor, lembrando que aquela era a resposta que ela se deu por algum tempo, quando pensava no que sentia por Marilia.

- Era meio surreal, sabe? Maraisa Pereira, gostar de Marilia Mendonça. Eu nunca fui grande coisa. Ser traficante era a única coisa interessante que eu achava que sabia fazer, e tipo, você odiava que eu fizesse aquilo, então ficava me perguntando porque você gostava de mim. - Marilia suspirou. - Nesse tempo para pensar que eu pedi para você, eu me permiti pensar em você, Maraisa, pensar sem ressalva, sem medos e foi então que eu descobri que mesmo sem querer, eu estava apaixonada por você. Além de ser minha melhor amiga, você era tipo, uma mulher, assim como eu e até onde eu sabia, eu não gostava de mulheres, mas mesmo assim eu estava super gostando de você. - Fez mais outra pausa para organizar os pensamentos. - Eu meio que surtei, foi então que caí na besteira de me abrir com Henrique.

Ao lembrar da conversa com o irmão, Emma sentiu raiva.

- Ele me disse muitas coisas, coisas do tipo, "nossos pais não vão aceitar", "o pai dela não vai aceitar", "vocês só estão confusas", "você não a merece". Mas a que me fez mesmo decidir foi "ela vai cansar, mais tarde ou menos tarde vai conhecer um cara, vai se apaixonar e vai deixar você. Não vai sobrar nem a amizade."– A loira suspirou. - O medo me fez desistir antes de tentar. Sabia que para ficar com você eu teria que abandonar a vida maluca que tinha, e aí eu correria um sério risco de ficar sem você, sem meu tráfico, sem nossa amizade, sem nada.

A morena ouvia a tudo sem dizer uma palavra, sem se mover, sem piscar. Era muita informação para tentar digerir. Estava sentindo vontade de muitas coisas, uma delas envolvia matar Henrique.

- Henrique me convenceu que ele era o cara certo para você e que se eu saísse de cena por algum tempo, ele te conquistaria, depois disso você me perdoaria por ter sumido e no fim das contas seríamos uma família feliz. Como vocês viviam de rolo, constatei que o plano dele provavelmente daria certo. Então fiz o que ele sugeriu. Infelizmente, ou felizmente, ele não conquistou você e eu não faço ideia do porque. - Marilia nunca questionou aquilo com o irmão e ele nunca chegou perto de tocar no assunto. - Até cheguei a ir atrás de você um ano depois, foi então que soube que você estava morando com um cara e esperava um filho dele. Então eu desisti e resolvi deixar você em paz.

Marilia pensou que Maraisa fosse levantar e correr para longe dali, mas para a sua surpresa ela sequer se moveu. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer, enquanto tentava assimilar e decidir se acreditava ou não em tudo aquilo. Muito do que ouviu fazia um pouco de sentido, algumas coisas ela não tinha certeza. Mas ao lembrar-se da conversa que teve com Henrique uns dias depois que Marilia sumiu, concluiu que totalmente mentira, aquela história não era.

A loira estava apreensiva, não conseguia tirar os olhos da amiga, que estava sem se mover faziam alguns minutos. Queria muito que Maraisa abrisse a boca para falar alguma coisa, nem que fosse para lhe xingar, qualquer coisa seria melhor do que aquele silêncio perturbador.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora