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"Tinha esperança que Maraisa abrisse a boca e a pedisse para ficar..."

*

Ao ouvir tal coisa, o copo de whisky que Maraisa tinha na mão foi ao chão, estatelando-se contra o mesmo. O choque pelo que tinha acabado de ouvir, a paralisou. Seus olhos assustados estavam em Marilia, que sustentava seu olhar.

Queria abrir a boca para perguntar alguma coisa, mas não sabia mais nem como fazer tal coisa, e também não tinha certeza se queria saber.

– Você está bem? – A naturalidade com a qual Emma fez tal pergunta, deixou Maraisa ainda mais abismada.

– Você me conta todas essas coisas e ainda diz que fez alguém suicidar-se e me pergunta se estou bem? – Questionou com descrença. – Não, eu não estou bem. – Esbravejou o óbvio. – Não estou nada bem – Voltou a esbravejar.

– Ouça Maraisa... – Ela negou e não deixou com que Marilia continuasse.

– O que você quer dizer com: obriguei a se suicidar? – Indagou nervosa, esfregou as mãos tremulas e suadas no encosto de braço da poltrona.

– Fiz ele cheirar uma quantidade de cocaína que o levasse a uma overdose. E só para garantir, o fiz beber uma dose significativa de Gim. – Os olhos de Maraisa cresceram ainda mais ao ouvir tal coisa. O pior não era só ouvir tal coisa, era ouvir tal coisa daquele jeito. Marilia não parecia abalada, ou arrependida, não tinha nada em sua voz ou suas feições que mostrassem o mínimo de compaixão sequer. Estava falando sobre aquilo com a mesma naturalidade que falaria sobre um jogo de futebol.

– Você o matou! – Acusou.

Marilia não gostou nada do olhar horrorizado que a amiga lhe lançava, estava quase se sentindo ofendida com aquilo. Maldita verdade! Por que tinha que conta-la? Maraisa não era forte suficiente para algumas verdades, ela não tinha um psicológico preparado para tal coisa. Seria tão mais fácil poupa-la, mas prometeu a si mesma que jamais voltaria a mentir, e o que ganhava como recompensa? Um olhar assustado, horrorizado, amedrontado.

– Não. Eu não segurei a cabeça dele contra a mesa e o obriguei a aspirar o pó, ele fez isso por si só. – Respondeu na defensiva.

– Não sei exatamente o que você fez, nem quero entrar em detalhes, mas a partir do momento que você diz que o obrigou a cometer suicídio, você está dizendo que o matou! – A acusou, fazendo a loira suspirar e dar de ombros.

– Ok, se quer entender assim, então tudo bem, eu o matei. – Concordou despreocupada.

– Por quê? Por quê? Por que está contando isso para mim? Por que está de novo me metendo em uma coisa ilegal? Por que está me fazendo de cumplice? – Esbravejou as perguntas contra a amiga.

– É a verdade que você quer, não é? Não é a maldita verdade que você defende sempre com unhas e dentes? Não é isso que você exige? – Maraisa estava a deixando nervosa. - Deixa eu esclarecer uma coisa para você, Maraisa Pereira, a verdade nem sempre é bonita, aceitável e maravilhosa. A maior parte das vezes, ela é intragável, suja, baixa, e é por isso que a gente mente. A mentira é tão mais confortável, é tão mais fácil ser feliz na mentira, porque ela pode ser exatamente do jeito que queremos. – Levou as mãos até a cabeça e passou seus dedos pelos cabelos. – É difícil, praticamente impossível falar a verdade para você, quando você claramente não está preparada para sequer ouvi-la. – Reclamou em tom de irritação.

– Por que você fez isso? – Maraisa respirou fundo, tentando controlar seu nervosismo. Sim, sempre defendeu a verdade, mas nunca pensou que um dia, pudesse ouvir Marilia lhe dizendo que matou alguém. Não estava preocupada com a morte do homem, aquilo era o de menos. O que estava lhe afligindo mesmo era saber que MARILIA matou alguém.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora