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"...Nem que eu precise enganar o Diabo, vamos voltar a nos ver. É isso que vamos prometer."

*

– Não se mexa! – Maraisa a ordenou. Seus olhos apavorados estavam na quantidade de sangue que saía do corpo dela. Jogou o celular em qualquer canto, e levou as mãos até os cabelos loiros os acarinhando, enquanto pensava no que fazer. Respirou fundo, e obrigou-se a engolir o choro, só quando teve certeza que conseguiria se manter firme, foi que subiu os olhos até o rosto da namorada, que parecia perdida. – Marilia! – Chamou, levando uma mão até o rosto da amiga. Viu uma lágrima solitária fugir dos olhos claros, antes dos mesmos procurarem por seus olhos. – Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. – Tentou sorrir, e livrou-se da lagrima estúpida da amiga.

– Você está bem? Ele machucou você? – Indagou com preocupação.

– Não, eu estou bem. Danilo provavelmente está morto. – Contou.

– Os tiros... você? – A morena assentiu com a cabeça, e viu um pequeno sorriso se fazer nos lábios pálidos da namorada.

– Devo dizer que estou orgulhosa? – Maraisa nada respondeu, a adrenalina que corria em suas veias, não lhe permitia pensar com clareza no que tinha acabado de fazer. Talvez mais tarde, quando tivesse que contar para o filho o que fez, viesse a se arrepender de tal coisa, mas naquele momento, se Danilo se mexesse um milímetro que fosse, voltaria a atirar. - Eu sinto muito. – Sussurrou, ao ver o quanto Maraisa parecia transtornada. – Sinto muito. – Voltou a repetir.

– Vai ficar bem, o socorro já está vindo. – Agarrou a mão ensanguentada da amiga e a levou até a sua boca, depositando um beijo lá. – Você vai ficar bem. – Prometeu não só para Marilia, mas também para si. Ficaria tudo bem. Se acreditasse naquilo, tinha certeza que aconteceria. Pouco importava o quão ferida a amiga estava, ficaria tudo bem. Tinha que ficar.

– Você está com medo. – Sussurrou ainda mais baixo. – Seus olhos, eles estão aterrorizados. – Maraisa balançou a cabeça muitas vezes.

– Não, não estou com medo, só estou assustada com tudo o que aconteceu. – Mentiu, o que fez Marilia esboçar um sorriso.

– Você continua uma péssima mentirosa. – Implicou. – Tudo bem você estar com medo, Maraisa. Você pode ter medo, acho que é uma boa hora para isso. – De novo Maraisa negou.

– Não. Eu não estou com medo, não preciso ter medo. Não preciso ter medo porque sei que vai ficar tudo bem. – Marilia queria ter aquela certeza, mas não tinha nem um pouco dela. Deveria estar sentindo dor, não deveria? A princípio, assim que foi atingida, foi o que sentiu, mas de algum jeito, a dor foi embora sem que percebesse. Anestesiada, era desse jeito que se sentia, e não sabia se aquilo era bom.

– Quão ferida eu estou? – Indagou, fazendo Maraisa tirar os olhos dos dela, para de novo analisar aquilo. A quantidade de sangue que viu, trouxe de volta sua vontade de chorar.

– Se ombro foi atingido, o abdômen também. – Sua voz saiu falha, a mão que segurava a de Marilia foi até o abdômen da loira, pressionando o ferimento.

– O que você acha de um pacto de sangue? – Lembrou-se do dia em que Maraisa lhe sugeriu aquilo, e como queria de algum jeito, acalma-la, tocou no assunto.

– Acho uma boa ideia, se você quiser, podemos renovar. – Como só uma mão não estava conseguindo conter o sangue, resolveu que precisava usar a outra também.

– Quero um pacto novo, com uma promessa nova. – De repente o ar, algo tão vital, mas que nunca tinha percebido tamanha importância, estava se tornando escasso.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora