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"Se você não quer ser minha, Maraisa, então não vai ser de mais ninguém, está me ouvindo?"

*

Um ano e três meses depois.

Maraisa acordou irritada, na verdade, nem dormiu. Passou a madrugada fugindo do marido, das suas mãos e do seu corpo que insistentemente tentaram de todas as formas uma aproximação. Lembrou-se de quando falava que cama do seu quarto era grande demais, seria cômico se não fosse trágico. A mesma cama uma vez enorme, tinha se tornado minúscula, se tornado pequena demais para duas pessoas. Sempre que Danilo deitava ao seu lado, sentia-se esmagada, espremida, pressionada. Deitar ao lado do marido era como deitar ao lado do inimigo.

Dar uma nova chance ao casamento foi uma das coisas mais erradas que fez na vida. Soube que provavelmente não daria certo quando adiou por dois meses o encontro com o marido, e teve certeza absoluta sobre aquilo, quando ele lhe tomou o corpo e tudo que ela sentiu foi uma enorme vontade de chorar, e foi o que fez, assim que o marido caiu ao seu lado e começou a roncar.

Como a boa masoquista que tinha se tornado, as horas em que passava trancada no banheiro chorando depois do sexo, era de Marilia que lembrava. Recordava-se de como se sentia bem quando depois de transarem, Marilia a puxava para si, acarinha seu braço, enquanto com uma voz baixa e preguiçosa fazia planos para o futuro. Sempre que pensava que todos os planos que fizeram não se concretizariam, tinha vontade de se descabelar, e tudo piorava quando se dava conta de que tudo que tinha lhe sobrado de Marilia eram lembranças, apenas lembranças.

De uma coisa tinha certeza, seu futuro com Danilo era tão inexistente quando ao com Marilia. Não conseguia mais, definitivamente não conseguia. Há quase seis meses estava fugindo das investidas do marido. Não existia mais dor de cabeça e indisposição que pudesse inventar. Sabia que ele estava cada dia mais impaciente, e tinha razão de estar.

Não conseguiu fechar os olhos um minuto sequer aquela noite, mas enfim tinha se decidido, colocaria um fim ao casamento, de preferência ainda naquele dia. Queria libertar-se, queria sua cama de volta, queria conseguir dormir, e não passar a noite encolhida no canto da cama com medo de ser tocada, queria não ter que fingir mais, queria paz. Queria também que o marido encontrasse alguém que lhe fizesse feliz, como ela sabia não ser mais capaz de fazer.

– Mãe? – Léo estava parado há alguns minutos, ao lado do sofá em que a mãe estava deitada. Ficou esperando que ela o visse ali, mas como os olhos dela continuavam fixos no teto, não lhe restou outra alternativa a não ser chama-la.

– Sim? – Respondeu meio perdida, sem saber se o filho tinha lhe dito mais alguma coisa ou apenas a chamado.

– Você está bem? – Perguntou ao aproximar-se.

– Sim. – Tentou sorrir. – Estou bem e você? – Ele lhe lançou um olhar duvidoso, e sentou-se na beira do sofá.

– Estou bem também. – Pela coberta e o travesseiro que faziam companhia para Maraisa, Léo concluiu que mais uma noite ela foi parar no sofá.

– Dormiu aqui de novo? – Perguntou só por perguntar.

– Eu estava sem sono, resolvi assistir um pouco de TV e acabei aqui. – Balançou a cabeça negativamente e levou a mão até os cabelos da mãe, os tirando da frente do rosto.

– Mãe, você acha mesmo que ainda é tão fácil me enganar? – Indagou, a fazendo sorrir sem graça. – O que está acontecendo com você? – Maraisa o olhou nos olhos, suspirou e resolveu contar sua decisão. Afinal, queria que o filho estivesse ciente do que aconteceria.

– Léo, eu vou pedir o divórcio. – Foi direto ao ponto, como sempre fazia quando o assunto era importante.

– Ok. – A resposta do garoto e a feição tranquila em seu rosto, fizeram Maraisa juntar as sobrancelhas.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora