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"Tudo que sabia era que queria entregar o corpo a amiga, porque sua alma há muito tempo já era dela."

(...)

Ao chegar a sala de filmes, Marilia foi a primeira coisa que os olhos da morena viram, a loira estava sentada sozinha na última fileira, e para o azar da morena, ela de algum jeito a percebeu ali e virou-se para trás. Maraisa a encarou por alguns segundos antes de lhe dar as costas e sair dali. Sem saber para onde ir, acabou parando na rua, sentou-se no banco de sempre, cruzou as pernas, fechou os olhos e respirou fundo. Sabia que Marilia já estava ali atrás dela.

– Você nem para me chamar, né? - A loira reclamou ao sentar-se ao lado da amiga.

– Pelo o que eu saiba não nascemos grudadas. - Respondeu em tom ríspido, ainda de olhos fechados.

– E que bicho mordeu você? - Indagou e não ganhou resposta. - Posso saber o que eu fiz? - Tentou de novo.

– Nada. - Foi tudo que respondeu.

– Se não fiz nada, então por que está brava comigo? - Voltou a questionar.

– Não estou brava. - Respondeu em um tom bravo.

– Okay. Vou fingir que está tudo bem então. - Deu de ombros, escorregou o corpo e deitou sua cabeça no encosto do banco. Mirou o céu, jogou as mãos para dentro do bolso e fechou os olhos. Maraisa abriu os olhos e a espiou pelo canto dos mesmos, e mesmo sem querer acabou sorrindo. Marilia sempre fazia aquilo quando não queria começar uma briga.

– Sua mãe veio meio que me cobrar uma explicação para o seu coração partido. - Contou.

– Por isso está brava? - Indagou ainda de olhos fechados.

– Ela pediu, quase implorou, para que eu não magoasse você. - Suspirou. - E só existe um jeito de isso acontecer. - Sussurrou e imediatamente Marilia abriu os olhos e voltou-se para a morena. - Não nos envolvendo. - Voltou a murmurar, seus olhos presos no céu.

– Não de ouvidos para a minha mãe. Ela está ficando velha, não sabe mais o que diz. - Maraisa abriu um sorriso triste.

– Ela só quer proteger você, Marilia. - Por ser mãe, Maraisa entendia perfeitamente a tia.

– Então a minha mãe manda, você obedece, é isso? Nós não somos mais crianças, Maraisa. - Estava começando a ficar irritada.

– Sinto muito. - Soltou com o ar. Marilia bufou e se pôs de pé, seu indicador apontou para a morena.

– Sabe o que você é, Maraisa Pereira? A porra de uma covarde. Não tem coragem para fazer o que quer, e fica arrumando pretextos. Quer saber? Vão se ferrar! Você, a minha mãe, meu pai, meu irmão, o mundo! - Cuspiu as palavras para cima da morena, antes de lhe dar as costas e sair dali.

Maraisa que já não estava muito bem, sentiu o sangue ferver ao ouvir aquela acusação. Respirou fundo e contou até dez, mas não funcionou, continuava possessa com aquela loira estúpida. Bufando, levantou-se dali e a passos largos, foi atrás de Marilia. Quem ela pensava que era para falar o que queria e depois sair daquele jeito? Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Não é isso que diz o ditado idiota? Então Marilia ouviria, a se ouviria.

Quando alcançou a loira, ela estava entrando na cela em que dividiam. Maraisa a puxou pelo braço de forma ríspida, pouco se importando com a presença das outras detentas.

– Quem você pensa que é para falar o que quer e sair assim? - Esbravejou. - Tudo bem você falar o que vier na cabeça, né? Mas você se manda antes de ouvir o outro lado. - Seus olhos fuzilavam a amiga, enquanto sua mão apertava o braço de Marilia sem um pingo de delicadeza.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora