45

737 94 55
                                    

Decidi soltar logo tudo hoje, para a tristeza ser de uma vez só. Perdão pelos capítulos grandes. Boa sorte e boa leitura.

*

"Marilia foi minha salvação, e um dia, tornou-se minha ruína."

*

Um quadrado de 2x2mts, com muita iluminação, cheirando a mofo, vômito e urina, uma privada nojenta e um chão sujo, assim era a tão temida solitária. Marilia encontrava-se deitada sobre o chão, ao lado de um amontoado e malcheiroso monte de comida que a mesma construiu durante aqueles dias.

Desejava que as luzes daquele lugar fossem apagadas, desejava viver no escuro, desejava esconder-se de si, desejava de algum jeito fugir, se esconder do mundo. Viver no escuro, talvez daquele jeito fosse mais fácil.

Não sabia há quanto tempo estava ali, não sabia sobre o dia da semana, sobre as horas, ou sobre ser noite ou dia, e também não se importava em saber. Não se importava com mais nada, honestamente não se importava. Um enorme vazio tinha tomado conta de si.

Quando chegou ali, chorou tudo que tinha para chorar, chorou até ficar exausta, chorou tanto que no final, as lágrimas acabaram. Na verdade, tudo tinha acabado, lágrimas, esperanças, vontade de viver. Tinha se dado conta que de nada adiantaria chorar, espernear, gritar, implorar, não, nada daquilo mudaria as coisas, nada traria Maraisa de volta, em algum momento passou a aceitar aquilo, o problema era que mesmo aceitando, não conseguia parar de pensar na amiga.

A verdade é que estava cansada, exausta de viver. Desejava morrer, desejava que aquela porcaria de vida chegasse de uma vez ao seu final. Viver era com certeza uma perda de tempo enorme. Sua família não merecia aquilo, não merecia o fardo, o incômodo que ela se tornou. A realidade é que era uma pedra no sapato de todos, para o bem deles e para o bem da própria Maraisa e sua família, era melhor que morresse logo, assim a vida de nenhum deles estaria mais em risco.

O problema é que era tão covarde, que não estava conseguindo dar cabo da própria vida, e ali dentro não tinha muita coisa que pudesse lhe ajudar com tal tarefa. Desde que chegou ali, ainda não tinha colocado um grão de comida na boca. As refeições que lhe era entregue todos os dias, estavam jogadas no chão, como não tinha apetite algum, aquilo não era difícil de fazer, o problema era que não conseguia fazer o mesmo com a água. Conseguiu ficar sem o líquido por um dia talvez, mas logo seu corpo, e seu instinto de sobrevivência a traíram, a fazendo voltar a tomar água, o que acabou com seu plano de morrer desidratada.

O frio absurdo que se apossou de si, a fez pensar em levantar-se para procurar sua jaqueta, foi então que se deu conta de quão mal estava, já que só a menção de se levantar, fez tudo começar a girar. Fechou os olhos com força e quando os abriu, sentiu-se ainda pior. Desistiu da jaqueta, deixou sua cabeça cair contra o chão, voltou a concentrar os olhos na rachadura do teto que se movia cada vez mais.

Maraisa, a menina magricela, assustada, acuada, com olhos expressivos e uma cicatriz incrível, foi a última coisa que lhe veio em mente e a fez sorrir, até por fim perder a consciência.

(...) Maraisa andava lentamente pelo corredor, cabisbaixo, olhos no chão, olheiras profundas, ombros caídos, mãos dentro dos bolsos, com cabelos caídos sobre os olhos. A solidão e uma tristeza quase sem fim acompanhavam seus passos. Seu abatimento chamava atenção por onde quer que ela passasse, a morena não lembrava em nada a Maraisa segura, inabalável, de postura perfeita e caminhar seguro que andava por ali há dias atrás e aquilo chegava a ser perturbador. Sabia que sua briga com Marilia era assunto ali dentro da prisão. Sabia que por onde passava, murmuravam sobre o assunto. Ouviu muitas fofocas a respeito, mas não tinha condições de bater boca, ou discutir com alguém sobre aquilo, então simplesmente ignorava.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora