ESCAPE

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"Isso é meio que uma fuga da nossa atual realidade, por isso se chama Escape."

*

Seus olhos estão fixos nas nossas mãos unidas, para ser mais precisa, em nossas alianças. O sorriso bobo em seu rosto acaba me contagiando e me fazendo sorrir também. Sua mão aperta a minha e ela suspira.

– É uma bela história, apesar de alguns pesares, tivemos vidas maravilhosas. – Balanço a cabeça concordando. – Eu tive uma vida maravilhosa. Você foi uma pessoa maravilhosa, ainda é. Sou alguém de muita sorte. – Tira seus olhos das nossas mãos e me encara. – Obrigada por isso! – Aponta ao nosso redor. – Por tudo isso.

– Eu é quem sou alguém de sorte. – Minha mão vai até seu rosto, o afago, o que a faz fechar os olhos. – Obrigada você, Maraisa Pereira, por ter me escolhido, por ter me deixado chegar perto, por ter confiado em mim, em nós. Você me disse naquela carta que sou, ou era eu, a primeira lembrança que você tinha, quando pensava sobre a vida. – Sorrio. – Você também é minha primeira lembrança, e a segunda e a terceira. Pensar sobre a minha vida, é pensar sobre você. Direta ou indiretamente, você faz parte de tudo que eu guardo aqui. – Bato o indicador na têmpora. – Você fez tudo funcionar, sabe? Tudo o que eu tenho, o que consegui, quem eu sou, devo isso a você. Eu não sei o que teria sido da vida, se você não tivesse me aceitado de volta. Provavelmente o tráfico já teria me matado há algum tempo, ou eu acabaria meus dias na prisão. – Faço uma pausa.

— Você me fez enxergar a vida, as oportunidades, as coisas boas que muitas vezes se perdem em meio a tantas coisas ruins que acontecem nesse mundo. Você me fez conhecer o significado de esperança, você me fez perder o medo de sonhar, de planejar. – Suspiro. - Você se tornou vital para mim, não existe Marilia sem Maraisa, pelo menos não uma Marilia que valha a pena. Essa coisa que nós temos, essa ligação, esse amor, é considerado utópico, sabe? Amor nos dias de hoje é algo que tem prazo de validade, e como você também disse, nós sobrevivemos a isso, ao tempo, a validade que impuseram a essa palavra. Somos um caso raro, Maraisa Pereira, somos duas sobreviventes aos oitenta anos de idade. A verdade é que todos querem ser amados, mas poucos querem amar, poucos querem se comprometer, poucos entendem o significado disso. – Lhe sorrio.

– Eu espero, na verdade, rezo todas as noites, e peço a Deus, para que na próxima vida, nós continuemos sabendo amar, para que continuemos sendo um caso raro. Peço para que seja sempre você, eu preciso que seja sempre você. Peço para que comece como começou nessa vida, com uma bela amizade, que com o tempo, que sem percebermos, evoluiu e tornou-se isso que temos até hoje. Não me importo em como venha a terminar, não me importo em de novo, ter que lembra-la, não me importo, tudo que me importa é que continue sendo você. – Seguro seu rosto entre as mãos, me aproximo, e junto nossos lábios. – Amo você! – Sussurro contra seus lábios, que agora formam um sorriso.

– E eu amo você! – Também sussurra. – Eu continuo amando você, por favor, acredite. – Balanço a cabeça afirmando e volto a beija-la.

– Eu sei, eu acredito, eu continuo vendo nos seus olhos. – Lhe garanto. – Nós vencemos, Maraisa, saímos vencedoras dessa loucura que chamam de vida. Nós vivemos, meu Deus, como nós vivemos. – Balança a cabeça concordando, e seus lábios voltam a se juntar aos meus.

A casa interrompe nosso momento, quando me avisa que está na hora dos meus remédios.

– Nunca vou me acostumar com essa coisa interagindo comigo. – Meu murmúrio a faz rir.

– Quem está falando? – Questiona comigo.

– A tecnologia. – Explico. – Não existe uma pessoa física, é só um computador. Algo como, inteligência artificial. – Faço careta, já que não tenho certeza sobre tal coisa. – Não faço ideia de como funciona, mas enfim, fala, ouve, e também tem olhos. – Aponto para as câmeras espalhadas pelos cantos do teto. – Eu explicaria para você todas as funções que tem essas coisas, e as maravilhas que pode fazer, se entendesse algo sobre isso. – De novo ela ri. – Chris adora falar sobre isso, e programar e tentar me explicar. – Sorrio ao ter uma ideia. – O que acha de os chamarmos aqui? – Me olha apreensiva.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora