O dia estava nublado, como se uma temporada tivesse pra chegar a qualquer momento. O mar agitado, com ondas enormes que batiam incansavelmente contra as pedras dos paredões de rochas. O vento era frio e carregava o cheiro salgado da água violenta.
Eu tinha fugido pra cá dessa mesma forma a anos atrás, quando ele se foi. Gritei até ficar sem voz e chorei até minhas lágrimas secarem. Pedi a todos os Deuses, antigos e novos, para que me devolvessem ele ou que me levassem em seu lugar, mas nunca recebi qualquer resposta. Na minha dor eu me perdi, não conseguia me encontrar, encontrar um caminho pra casa, uma direção pra seguir, era tudo negro e frio. Tudo só piorou quando vi minha mãe a qual eu tanto amava, a pessoa que eu achei que poderia compartilhar do mesmo sofrimento e encontrar um pouco de consolo, se casar novamente com outro homem em menos de uma semana que meu amado pai havia morrido.
A dor se tornou fúria e ressentimento. Mágoa por ela não ter ao menos sentido nada quando o homem que fora casada durante tantos anos, morrer de uma hora pra outra. Meu estômago se embrulhava em pensar que teria que morar junto dela e seu novo marido com as filha dele, eu continuava amando minha família e gostava de minhas primas, mas aquilo era demais pra mim, eu não conseguia.
Mas eu lembro quem foi que me estendeu a mão naquela hora tão obscura, a pessoa que compartilhava da mesma dor que a minha, que sofreu e chorou comigo, quem me consolou e a quem eu consolei. Minha avó Rhaenys, a pessoa que me salvou e me mostrou uma direção a qual seguir.
Eu cresci aqui ao lado dela e do meu avô, essa foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado em toda minha vida. Se eu tivesse seguido minha mãe de volta pra casa, talvez poderia ter feito alguma besteira, talvez poderia ter feito todos sofrerem. Então não me arrependo de ter ficado em Derivamarca, aqui era meu porto seguro, minha casa para onde eu poderia voltar sempre quando estivesse perdida.
Soltei um longo suspiro me levantando e limpando a areia das minhas roupas. Eu já estava a tempo demais aqui e tinha que voltar pro lado da minha avó logo, com meu avô doente no momento, ela precisaria de ajuda.
Andei pela praia aproveitando os últimos momentos da maresia que chegava a encosta. Tinha completado meu objetivo de tomar um pouco de ar e esfriar a mente, aquele ambiente mórbido do castelo estava me sufocando.
Enquanto me aproximava eu notei minha avó me esperando nos portões, seu rosto estava sério. Algo grave deve ter acontecido.
Apresso o passo pra chegar logo até ela.
- Vovó o que houve? - Sua expressão se suavizou um pouco, mas seu olhar estava um pouco melancólico. - Aconteceu alguma coisa com o vovô?
- Querida. - Ela me estendeu a mão e eu agarrei. Então começamos a entrar no castelo enquanto ela entrelaçava nossos braços e começava a falar calmamente. - V me escute com atenção, temos que ir até Porto Real. Seu tio-avô Veamond está questionando a legitimidade da sucessão do seu irmão Lucerys ao trono de madeira.
Eu sabia! Algo realmente tinha acontecido. Veamond era uma víbora que sempre esteve a espreita pra tomar o trono da minha família, igual as cobras da Fortaleza Vermelha. Uma fúria subiu no meu peito, como ele ousa tentar tirar o que é do meu irmão por direito?! O que meu pai deixou pro seus filhos. Isso era uma afronta e desrespeito as memórias do meu pai e eu nunca iria permitir que isso acontecesse.
- Quando vamos vovó? - Se eu pudesse eu pegaria um barco já e navegaria direto pra Porto Real.
- Agora mesmo. - Olhei pra ela confusa. Eu queria ir agora pra lá, mas levaria um tempo até pelo menos preparar um navio. Vendo minha confusão ela sorriu ternamente e acariciou minha bochecha. - Vamos em Meleys. Quando mais cedo chegarmos lá melhor.
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Sangue do Dragão | HOTD | Aemond Targaryen
FanfictionVisaena Velaryon era a única criança nascida de Rhaenyra Targaryen e Laenor Velaryon com características valirianas. Depois da morte do pai ela passou a morar com a avó paterna, Rhaenys. Se distânciando de sua mãe, que havia se casado novamente e de...