41 • Pai e filha

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POV Daemon

— Eu ainda não consegui assimilar bem as coisas, desde que vocês me contaram a verdade. - Ela estava nervosa, não querendo olhar pra mim, de cabeça baixa. — Desde pequena eu sempre tive como verdade de que eu era a única filha de Laenor Velaryon e Rhaenyra Targaryen. Eu sabia que meus irmãos não eram filhos dele... e sim de Sir Harwin. - Achei que ficaria mais chocado ao saber disso, mas não senti nada. Não fiquei surpreso, minha menina é igual a mim, muito inteligente desde pequena. — Eu amo meu pai e jamais deixarei de ama-lo... ele me ensinou tudo, ele me deu amor e fazia eu me sentir a jóia mais preciosa do mundo. Ele lia e cantava pra mim todas as noites, quando estava triste, papai fazia de tudo para que minha tristeza fosse embora, mesmo que ele mesmo estivesse despedaçado por dentro. O papai sofria... eu sei que ele sempre sofreu em silêncio, mas mesmo em meio a esse sofrimento, ele jamais deixou que eu me sentisse assim... quando ele se foi... eu senti que parti junto dele... mas agora depois de tanto tempo, a dor amenizou e eu posso lembrar dele como o guerreiro que ele sempre foi. Forte e corajoso, o meu amado pai que me fez ser quem sou hoje... por isso estou com medo... - Ela olhou pra mim e eu pude ver as lágrimas que caiam de seus olhos. — ...se eu aceitar você... eu perderei o meu papai?

— VISAENA! - Puxei ela pros meus braços, apertando seu corpo trêmulo. Senti um nó na garganta, um frio na barriga e uma dor no peito ao ver minha filha com essa expressão tão desesperada. Eu jamais quis isso, jamais quis vê-la dessa forma.

Os Deuses sabem o quão abençoado e feliz eu me senti quando enfim pude chamá-la de filha, quando enfim pude tê-la em meus braços. Eu queria proteger minha criança, compensar todos esses anos em que não pude fazer isso, em que não pude estar ao seu lado lhe dando apoio, lhe ensinando e aconselhando, mostrando a ela o mundo e guiando-a na vida. Lembrar de todos esses anos agonizantes com minha menina longe, me fez sentir que valeu a pena esperar quando ela finalmente me chamou de pai.

Mas fui ingênuo. Fui ingênuo ao pensar que ficaria tudo bem depois daquele dia em que Rhaenyra contou a ela, achei que nós seríamos uma família, que nós ficaríamos juntos agora. Esse foi meu maior erro, eu fiz com que ela engolisse todas suas mágoas, preocupações, medos, ela só guardou tudo pra si, ficando cada vez mais sufocada. Até estourar neste momento.

— Perdão... perdão minha menininha. - Minha voz estava mais trêmula do que eu pensava, mas não me preocupei com isso. — Você jamais irá perder seu pai, Laenor foi e sempre será seu pai! O homem que te criou, o homem que a transformou nessa mulher maravilhosa e espetacular que você é hoje! - A larguei por um momento e segurei seu rosto, limpando as lágrimas que não paravam de escorrer e encarando seus olhos roxos. Eles estavam tão assustados e tristes, que eu senti lágrimas caírem dos meus também, fazendo aquelas duas bolinhas púrpura se arregalarem de espanto. — Desculpe por demorar tanto pra finalmente ver sua dor, pra entender o quão caótico seu coração ficou depois que contamos tudo pra você. Eu nunca quis isso, jamais quis vê-la assim. Eu fiquei tão absorvido na minha própria felicidade, que acabei não vendo o quanto você sofria em silêncio, eu negligenciei a única pessoa que lutei tanto para ter ao meu lado.

Respirei fundo pra recuperar o fôlego e juntar um pouco mais de coragem pra continuar, estava nervoso, nunca passei por algo assim e não sabia o que fazer. Mas eu sentia que devia contar tudo pra minha menina neste momento, eu tinha que deixá-la saber o que eu sinto, já que essa garotinha tão frágil foi corajosa o suficiente para dar o primeiro passo. Não posso me esconder atrás de Rhaenyra pra sempre, somente eu posso ter essa conversa com minha filha.

— Eu te amei desde o momento que sua mãe me disse que estava grávida de você, quando você nasceu eu estava lá e fui o primeiro a pegá-la no colo. Era um ser tão pequeno, tão frágil, que parecia que iria se partir ao menor movimento e eu tremia sentindo seu corpinho se mover debilmente nos meus braços. Naquela época Laena ainda não havia dado a luz, então você foi minha primeira filha, minha primogênita e eu senti algo inexplicável assim que te vi. - Tentei sorrir, mas não conseguia fazer isso sem sentir algo na garganta. — Sempre quis estar lá vendo você crescer, eu queria me tornar um do seus apoios, então criava desculpas para visitar seus pais sempre que podia. Os dois notavam isso e até me ajudavam, nos convidando para visitá-los e passar um tempo com vocês. Mas eu não sabia como me aproximar de crianças, nunca soube, criei Baela e Rhaena da melhor forma que pude, mas jamais conseguiria me aproximar de uma criança que não vi crescer. Eu me odiava naquela época, odiava o fato de que nem conseguia me aproximar da minha menina como seu Tio-avô, já que não podia dizer que era seu pai. - Peguei suas mãos, acariciando sua pele suave e delicada. — Você sempre ficava assustada comigo e fugia até Laenor, ele me consolava quando isso acontecia, mas eu sabia que jamais conseguiria ter com você a ligação que os dois tinham. Por isso meu amor, eu posso esperar. Irei esperar o tempo que for preciso, quando você se sentir pronta, quando sentir que pode me aceitar, eu estarei lá para recebê-la de braços abertos. Não importa quantos anos leve, eu posso estar velhinho e cheio de rugas, mas continuarei te esperando. - Acariciei seu rostinho, que estava com as sombrancelhas franzidas e um pequeno biquinho nos lábios. — Então venha a mim quando estiver pronta, eu nunca irei te abandonar, sempre estarei ao seu lado como seu padastro, um padastro que te ama mais que tudo nesse mundo. Não se preocupe, Laenor nunca deixará de ser seu pai, tenho certeza que ele sempre esteve ao seu lado te protegendo. Voce não precisa abandonar um para ter o outro, ninguém decide sobre sua vida, você pode ter dois, três, quatro pais e eles serão seus amados pais. Cada um é único, assim como você é única.

Sangue do Dragão | HOTD | Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora