35 • Criança da Primavera

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Minhas pernas já estavam cansadas de correr. Os lobos continuavam me perseguindo incansavelmente e eu não tinha ideia de onde Aemond e Fon haviam se metido. Comecei a perder as esperanças e quase podia ver o Estranho vindo me buscar.

Tudo estava bem até poucas horas atrás quando saímos de Salém, mas em algum momento começamos a sentir o chão tremer e então uma mana de rinocerontes correram entre nós, nos fazendo fugir rapidamente. Eu acabei me separando dos dois e saindo da trilha, agora estou perdida. O que de pior poderia acontecer?!

Mas como um feitiço de azaração, tropeço e caio na neve fofa, sendo rodeada pelos lobos raivosos, prontos pra avançarem sobre mim. Este era meu fim, não iria mais ver minha mãe, meu pai que acabei de encontrar, meus irmãos, minhas irmãs, tinha saudade até mesmo do meu tio Aegon, com suas histórias e palhaçadas de bêbado. E Aemond... nós finalmente iríamos ficar juntos, íamos nos casar, mas agora tudo isso estava se esvaindo entre meus dedos. Meu avô morreria e minha família iria se perder e se dividir.

Ali ia ser o fim de Visaena Velaryon, um fim frio e solitário, na boca daqueles lobos.

Quando fechei os olhos e aceitei meu destino... a dor não chegou e comecei a ficar nervosa. Ao abrir os olhos eu vi os lobos correndo pra longe, me fazendo perder todas as forças e me afundar na neve. Perdida, sem saber o que diabos tinha acabado de acontecer.

Até que de repente, ouvi sinos começaram a tocar ao longe, vindo até mim. Assustada olhei na direção do som e o mundo pareceu parar.

Uma criança vinha em minha direção. De longos cabelos verdes que pareciam as folhas das árvores, seus olhos também eram verdes, mas tinham um brilho dourado como o ouro derretido em suas pupilas e ela estava com um caloroso sorriso nos lábios. Ela usava um simples vestido branco de amarras nos ombros e em cada pulso e tornozelo, ela tinha braceletes com pequenos sinos.

Mas não foi isso que me deixou chocada, e sim como ficavam os lugares por onde ela passava. Quando seus pés tocavam a neve, ela derretia como água e grama fresca nascia, com flores, ervas e até pequenos arbustos criando uma trilha verde. Logo atrás dela seguiam pequenos animais, como cervos, marmotas, esquilos, filhotes de urso e vários outros roedores, além dos pássaros que voavam por cima dela de uma árvore a outra, cantando em harmonia com os sinos.

Observei chocada aquela menina vir até mim. Quando ela chegou na minha frente uma voz cálida e etérea saiu dos seus lábios.

— Olá. Obrigada pela bela flor que deu a minha mamãe. - Olhei seu sorriso brilhante e sua expressão alegre.

Mas não entendi o que ela quis dizer com aquilo, eu tenho certeza que jamais entreguei ou presenteei alguém com flores, muito menos algum ser capaz de dar a luz a uma criança como aquela.

— Você se perdeu? - Sua voz me tirou dos meus pensamentos e acenei com a cabeça pra sua pergunta, ainda não conseguia encontrar palavras pra dizer alguma coisa. Aquilo tudo era demais pra minha cabeça. — Eu sei onde seus amigos estão. Venha, irei levá-la até eles. - Ela estendeu sua delicada mão, fazendo sons com os sininhos do bracelete. O sorriso caloroso continuava em seu rosto.

Não sei de onde veio o impulso, mas peguei em sua mão e ela imediatamente começou a andar, me levando pra sabe-se lá onde.

O passeio foi tranquilo e muito mágico. Eu vi ali na frente dos meus olhos, aquela criança transformar o inverno em primavera. A neve derretia e as árvores se enchiam de folhas, e a cada momento, mais e mais animais despertavam de sua hibernação, saindo de suas tocas.

— Veja, eles estão logo atrás destes arbustos. - Quando por fim paramos ela me indicou os pequenos montes de folhas na nossa frente. Então ouvi Aemond e Fon.

Sangue do Dragão | HOTD | Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora