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BELLA

- bom dia, posso deixar meu currículo com a senhora? - pergunto a moça que está no balcão.

- Pode sim.

Entrego o currículo a mesma e agradeço.

Passei o dia todo entregado currículo, entreguei em todas as lojinhas no morro e também em algumas no asfalto.

Em lanchonetes, mercados, lojas de roupas, casa de ração.

Em todos os lugares, tenho fé que pelo menos algum deles possa me chamar.

No final do dia chego morta em casa e encontro com a Luanda.

Me jogo no sofá e ela me dá um copo d'agua.

- Vitória foi embora logo assim que você desceu - ela diz.

- Encontrei com o cabelinho no caminho, imaginei que ela tava indo pra lá. - digo.

- Bella, só toma cuidado com esse povo - reviro os olhos.

- Relaxa! - digo e me levanto - Vou tomar um banho tô exausta, entreguei currículo em tudo qualquer lugar - sorrio.

- gosto de te ver assim! Correndo atrás das suas coisas, tu não se deixa abater fácil, mesmo depois de tudo que passou.

- Só paro quando eu morrer - digo e Lua ri.

Vou até o banheiro e tomo um banho, colo outra roupa da Luanda, porque ainda não tive coragem de voltar naquela casa e pegar as minhas coisas.

Mas amanhã vou ir lá, não dá pra ficar abusando da ajuda da Luanda.

Daqui a pouco vou começar a me sentir como um fardo.

Após terminar o banho vou para o quarto e me jogo na cama.

Tô tão exausta que nem vou comer nada.

Do uma rápida olhada no celular e vejo que o cabelinho me seguiu no Instagram.

Levanto a sombrancelha e reviro os olhos.

Do uma rápida stalkeada.

Não dá pra mentir, o cara é bonito, ainda tem essa marra toda de brabo.

Saio do insta dele e não sigo de volta, depois vejo isso.

Me ajeito na cama e apago.

                                [ .... ]

- Tem certeza? - Luanda me pergunta assim que começamos a descer a rua.

Aproveitei que ela ia descer pra trabalhar pra vim na minha antiga casa.

- Preciso das minhas coisas - digo.

- não me importo que você use as minhas por enquanto, e que tá muito recente - ela diz.

- Uma hora ou outra eu ia ter que vim aqui - Olho pra casa e tiro a pequena chave do meu bolso.

- Qualquer coisa me liga! É sério Bella - concordo e me despeço dela.

- Bom trabalho lá! - Lua me manda um beijo e caminha em direção ao ponto de ônibus.

Respiro fundo e abro o portão.

A casa tá toda fechada, e nunca mais vi o K2 por aqui.

Acho que o cabelinho expulsou ele do morro, bom isso é o que ouvi por aí.

Empurro a portão que estava encostada e um sentimento ruim cresce no meu peito.

E como se eu tivesse vivendo tudo de novo.

As surras que levem, as vezes que fazia sexo contra a minha vontade, só pra não apanhar.

Uma lágrima desce contra a minha vontade e encosto na parede da sala.

Me pergunto como eu uma mina maneira, que sempre trata todo mundo bem, passou por isso.

Cai de paraquedas em um relacionamento abusivo, e quando fui perceber já era tarde demais.

As lágrimas não paravam de descer e cada passo que eu dava pra dentro daquele quarto meu peito doía.

Lembrar das vezes que ele me jogava contra aquela cama, e fazia ameaças pra tocar em mim me doía.

Algo que nunca vou ter coragem de contar pra ninguém, nem pra minha melhorar amiga.

Quando chego em frente a cama sinto minhas pernas tremerem e caio de joelhos.

Cenas horríveis passam pela minha mente e minha única reação e chorar.

- Meu Deus, por que eu...- digo em meia as lágrimas.

Só Deus sabe o quanto eu me sentia suja toda vez que era obrigada a deitar com esse homem.

Todas as vezes que me olhei no espelho e via aquelas marcas pelo meu corpo.

Meu choro se intensifica e não consigo fazer mais nada.

Luanda tinha razão, eu não deveria cima qui agora.

    

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