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𝘒𝘈𝘙𝘐𝘕𝘈

Se passaram duas semanas, quartoze dias de puro tormento para minha mente onde eu não sabia mais oque fazer. Não havia conseguido recuperar meu emprego, não que eu tenha tentado também, pensei que talvez Suzana percebesse que fez uma grande burrada ao me demitir e vinhesse atrás de mim.

Mas que burrice a minha.

É claro que ela não fez isso, ninguém em sã consciência recontrataria alguém acusado de furtar algo em sua loja. Não tinha mais esperança de que fosse encontrar um emprego, e faltava exatamente um dia para cumprir o prazo da dívida ou ele ia de base.

Eu sabia que Dom não teria pena, ele com certeza mandaria seus comparças virem cobrar meu irmão, e isso não nos levaria a um lugar bom.

O dinheiro que recebi trabalhando os finais de semana durante duas semanas, deu apenas para pagar o aluguel, e quanto ao resto, teremos que sobreviver com o pouco de comida que tem na dispensa do mes passado, conta de água e luz ficou em segundo plano, serão cortadas assim que não forem pagas.

Mas isso não era o mais importante, a conta eu me resolvia depois, a vida do meu irmão era mais importante.

― Aonde você vai? ― Gustavo questionou quando me viu aparecer arrumada na sala.

― Estou indo na casa da Carol, mas volto logo ― menti na cara dura, evitando de olhar para Gustavo ou então ele iria perceber meu nervosismo.

Era mentira, eu estava aproveitando a noite de sábado para ir resolver logo essa questão da dívida, como domingo seria o última dia do prazo, eu como uma perfeita apressada que sou, decidi resolver logo.

Sem falar que ir em busca do Dom naquele bordel durante o dia de amanhã não era nada legal, as pessoas poderiam me ver entrando naquele lugar sujo e pensar coisas erradas.

Por isso preferi ir até lá a noite, um horário em que eu esperava não ter quase ninguém para presenciar essa vergonha na minha vida. Só não sabia como teria forças para entrar novamente naquele lugar.

― Cuidado, o bairro tá tenso nesses últimos dias ― me aconselhou, levando em consideração a onda de assaltos que estava acontecendo dentro do morro.

Se armou uma confusão por conta disso, alguém dentro do morro estava assaltando os próprios moradores, portanto, não era bom ficar vacilando nas ruas ainda mais a noite.

Dom e sua corja de bandidos estavam em uma luta constante para tentar descobrir quem era o traidor, por que roubar dentro da favela era como agir pelas costas do dono do morro, e isso não era aceitável.

A punição era a morte.

― Beijo, deixei comida no micro-ondas ― avisei, batendo a porta antes que pudesse receber uma resposta do meu irmão, que ficou no sofá com sua vida ganha.

Respirei fundo quando cheguei na calçada, me preparando mentalmente para lidar com algo que vinha assombrando minha consciência a muito tempo. Eu literalmente não sabia como iria resolver essa questão, não tinha dinheiro, não tinha um emprego decente, não tinha nada.

Minha vontade era de chorar, por que eu não sabia mais oque fazer para conseguir cobrir aquela bendita dívida. Caminhei pelas ruas quase vazias do morro por volta das nove, abraçando a mim mesma por conta do frio que me acompanhava.

Tinha tudo para chover, o dia passou nublado, com alguns chuviscos, pausas, mais chuviscos, mas eu arrisquei usar um short mesmo assim, foi a primeira coisa que vi no meu guarda roupa, e não tinha cabeça para pensar em um look perfeito.

Afinal qual era a graça em me vestir tão elegantemente para entrar em um bordel de quinta categoria?

Andando lentamente eu consegui chegar naquela maldita casa de prostituição dentro de dez minutos, antes de subir na calçada do lugar asqueroso, observei em minha volta para ver se tinha alguém me observando, quando vi um carro virando a esquina e desaparecendo, deixando a rua vazia, corri em direção a entrada do lugar.

No morroOnde histórias criam vida. Descubra agora