042.

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𝘒𝘈𝘙𝘐𝘕𝘈

Já tinha perdido as esperanças de que fosse conseguir ver o Dom naquela noite ainda, estava quase pegando no sono naquela cama imensa de tanto esperar, nem mesmo o filme que Carol colocou estava me entretendo. Eu queria muito dormir e aos poucos estava me rendendo ao sono.

A trilha sonora irritante era de tiros, ecoando pelo quarto desde a quatro da tarde e parecia não ter pretensões de acabar tão cedo. Se tratava das oito da noite, o clima estava caótico na favela, eu estava acompanhando tudo pelo site de fofocas do morro e me atualizado, até o momento em que me bateu um sono tremendo.

― Estão assistindo oque? ― alguém invadiu o quarto em que estávamos de forma repentina e adentrou o espaço pequeno.

Não precisa nem abrir meus olhos para reconhecer aquela voz irritante de maritaca, era a Camila. Depois que Dom e sua corja de bandidos saiu para enfrentar o morro rival lá fora, quem estava no pagode foi obrigado a continuar dentro daquela casa, assim como eu e Carol.

Restou apenas as mulheres já que os homens foram todo defender a favela, mas todas as mulheres que restaram naquela casa exceto eu e Carol, estavam espalhadas pelos cômodos, apenas esperando o momento de ir embora. Até que aquela modelinho de barbie paraguai resolveu invadir o quarto em que estávamos.

― Numtim ― Carol respondeu de imediato, parecia estar mesmo falando sério.

― Oque? ― Carol se aproximou da cama com uma ruga na testa, tentando reconhecer o filme que assistíamos.

O quarto não era meu para eu exigir que ela fosse embora, mas também não precisariamos passar a noite juntas.

― Numtim interessa ― Carol vociferou com toda sua vontade, parecia uma criança de cinco anos dando uma resposta grosseira em alguém, e em seguida lançou um olhar debochado para a garota, que logo se mostrou ofendida.

― Aí, sua grossa ― Camila encarou Carol de cima a baixo enquanto minha amiga estava deitada ao meu lado na cama, e eu enterrei minha cara no travesseiro para não rir alto.

― Quem foi que te chamou aqui? ― Carol ergueu as sobrancelhas, soando seria demais.

Não sabia quais motivos a levou a tratar a Camila daquela forma, talvez ela soubesse que a garota era a maior biscate da favela, e que também estava se envolvendo com Dom.

― Não precisa me chamar, lá embaixo o clima está chato então decidi vim para cá ― Camila deu de ombros, pouco se importando com a fuzilada mortal que Carol estava a entregando.

A garota de cabelo castanho teve a audácia de se aproximar da cama e tentar tomar o controle da Carol, como se tivesse algum direito de trocar o filme. Vamos ser sinceras, o filme que Carol escolheu não era tão bom assim e estava me dando sono, mas aquela vagabunda não podia chegar e achar que mandava em alguma coisa.

― Tira sua patinha daqui, lindeza ― Carol deu um tapa certeiro na mão da Camila quando ela tentou tomar o controle dela.

Outra vez segurei minha risada.

― Quer saber? Vai pro inferno garota, eu vou descer e esperar pelo Dom ― Camila se mostrou brava quando recebeu o tapa na mão, mas não fez nada além de respirar pesado, virar de costas e ir em direção a porta pisando fundo.

Só não esperávamos que ela fosse parar imediatamente quando visse Dom, chegando e parando exatamente onde ela iria passar. Dom parou diante a porta e a encarou dos pés a cabeça de forma desdenhosa, como se ela fosse a última pessoa que estivesse esperando encontrar naquela noite.

― Dom.. você se machucou? ― Camila vociferou quando se deparou com ele, não tinha uma imagem muito boa do Dom de onde eu estava, então precisei me sentar corretamente na cama.

No morroOnde histórias criam vida. Descubra agora