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𝘒𝘈𝘙𝘐𝘕𝘈

Ele ficou me encarando trocar de roupa como um sociopata, como se eu fosse fugir a qualquer momento e sair do seu campo de visão, e aquilo soou bem possessivo para mim. Ou melhor, não tinha nada mais possessivo do que invadir a casa de alguma garota para questiona-lá sobre um rapaz.

E mesmo depois de ter conseguido arrancar informações sobre minha noite, Dom ainda continuou ali, me esperando terminar de me vestir como se quisesse algo mais.

Encara-ló com suas pernas esguias para fora da minha cama enquanto me comia com os olhos, só me fazia lembrar da horrível sensação de ter minhas costas se chocando com a madeira do guarda roupas.

Não foi uma dor insuportável, mas foi algo que me fez sentir dor, e algo que eu poderia considerar uma espécie de agressão, já que foi notório a expressão satisfatória de Dom ao me ver vulnerável. Ele parecia gostar de me ver sentir dor, oque só comprovaa uma coisa, o quanto ele era maldoso.

Já tinha sacado seu jogo, ele tratava a pessoa bem enquanto ela fizesse oque ele queria, e o agradasse, mas quando tudo fugia dos seus planos e Dom sentia que estava perdendo o controle sobre a pessoa, se sentindo ameaçado, ele a machucava.

Eu não queria saber qual era o seu nível de agressão mais avançado, até por que soube de boatos que ele tem um histórico horrível com mulheres envolvendo agressões e até mesmo um homicídio.

― Vai ficar aí me encarando a noite toda? ― engoli em seco, e me permiti dar um passo em sua direção após passar meu perfume e estar pronta para dormir.

Dom pareceu pensar no assunto, seus olhos rolaram pelo meu corpo, parecia estar estudando aquela minha roupa idiota de dormir de panda, e depois encarou meu rosto. Tudo indicava que ele estava me estudando, oque era meio estranho já que nos conhecíamos.

― Teu irmão foi me procurar hoje mais cedo ― Dom comentou sem esboçar nenhuma reação, parecia um robô falando no automático, e permaneceu assim nos próximos segundos.

― Meu irmão? Oque ele queria? ― indaguei preocupada e ao mesmo tempo aflita, já prevendo que Gustavo havia descoberto meu lance com Dom.

E justamente por isso, caminhei com pressa na direção do Dom na minha cama, como se estar próxima dele fosse fazer com que as coisas se esclarecessem mais.

― Veio me pedir um cargo na favela ― Dom me contou aquilo com toda naturalidade do mundo, e suas sobrancelhas se erguendo com um movimento da testa, me fizeram acreditar que ele não estava preocupado em me contar aquilo.

― Um cargo? ― perguntei pasma, sentindo meu coração acelerar.

Gustavo não tinha descoberto meu caso com Dom, ele tinha feito algo pior.

― Teu irmão queria quitar a dívida, mas aí eu disse que tava comendo a irmã dele e ele não precisaria mais quitar a dívida ― continuou falando e mantendo aquele olhar neutro, de quem estava sendo sincero mas sem pretensões de me prejudicar com o meu irmão.

Se antes eu tava nervosa, naquele momento eu senti até minha garganta travando e o ar me faltando.

― Você oque? ― me coloquei de pé em desespero, embora minhas pernas bambas pediam por um sossego. ― Dom, você tem noção do que você... ― aumentei meu tom de voz como se estivesse conversando com alguém normal e não com o dono do morro, mas parei no momento em que vi um sorrido brotando em seu rosto.

No morroOnde histórias criam vida. Descubra agora