038.

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𝘒𝘈𝘙𝘐𝘕𝘈

O sol não tava pra brincadeira no morro do alemão, sem zoeira, acho que tava fazendo uns quarenta graus, se não mais. O dia amanheceu muito abafado, não tinha quem conseguisse ficar com roupas pesadas até mesmo dentro de casa, por isso optei por um short de malha fina e um sutiã pra sair naquele dia.

Era a escolha ideal para não passar sufoco de tanto calor.

Como a casa estava limpa do dia anterior, resolvi não me importar com limpeza, afinal era domingo, ninguém merecia passar o dia de domingo limpando casa. O máximo que fiz ao acordar foi lavar alguns pratos que Gustavo sujou na noite anterior e preparar meu café da manhã. Nada muito animador, já que a dispensa tava vazia.

― A dispensa tá quase zerada ― anunciei quando meu irmão entrou na cozinha, com os olhos inchados de tanto dormir e o cabelo bagunçado.

― E eu tô sem grana ― Gustavo respondeu ranziza, quando tocava em assunto de dinheiro ele parecia ficar mais rígido, talvez por que soubesse que a situação em que estávamos era culpa sua. Se Gustavo não tivesse se metido com coisa errada, talvez eu ainda tivesse meus dois empregos.

― E o trabalho de ajudante de pedreiro? ― rebati com a mesma frieza, por que no fundo eu sabia que ele estava se envolvendo com coisa errada e provavelmente abandonou o emprego digno por conta disso.

Bebi um gole de café para a torrada descer com mais facilidade, tendo em vista que aquela torrada já estava a semanas no armário, e poderia até mesmo estar vencida. Mas era oque tínhamos para aquela manhã, a preguiça não me deixaria ir comprar pão.

― Fui demitido ― disse com toda naturalidade do mundo, sentando-se sobre a mesa para tomar seu café da manhã.

Era incrível como ele conseguia manter a calma mesmo diante todos os problemas, deitar a cabeça sobre o travesseiro e dormir em paz, por que se tinha uma coisa que eu não conseguia fazer era dormir em paz, não desde o momento em que descobri que meu irmão estava se envolvendo com o crime. E eu não podia deixar essa história para trás, precisava tirar satisfações.

― Gustavo, quando você me prometeu que iria abandonar o seu vício por drogas eu acreditei em você ― comentei receosa, não queria tocar naquele assunto, mas era meu papel fazer isso tendo em vista de que meu irmão mais velho não estava sendo responsável como deveria.

No mesmo instante ele virou seu rosto e abandonou a xícara de café que até então tomava, para me da mais atenção. O olhar que ele lançou para mim era de confusão, parecia não entender o por que de eu estar tocando naquele assunto.

― E eu parei, não estou mais usando
― Gustavo mentiu para mim, mesmo sabendo que aquilo era difícil de se acreditar.

― Não só continua usando, como está se envolvendo com coisa errada, ou você achou mesmo que eu não saberia que está entrando para o crime? ― cuspi as palavras com bravura, estava chateada por meu irmão ter jogado tudo para o alto somente para se dar ao luxo de atender aos seus caprichos, que envolviam portar uma arma e bancar de traficante.

Se dependesse de mim ele não iria conseguir ir tão longe.

― Quem te contou? ― rebateu assustado, pouco se importando em tentar negar.

― Isso importa? Eu te conheço Gustavo, sou sua irmã mais velha ― disse seriamente, abandonando meu café da manhã para da atenção aquele assunto que tinha mais importância.

― Relaxa, é só até que a gente consiga se estabilizar, ou você acha que as contas vão se pagar sozinhas? ― Gustavo foi grosso, na verdade ele estava tentando me atacar com aquela desculpinha esfarrapada para tentar justificar seu erro.

No morroOnde histórias criam vida. Descubra agora