𝘒𝘈𝘙𝘐𝘕𝘈
Tinha notado o Dom me fuzilando de onde estava como se quisesse me matar, não sabia se era pelo fato de eu ter aparecido naquela festinha sem avisá-lo ou se era pelas minhas compainhas. Arana se sentou ao meu lado no momento em que cheguei e ficou batendo papo comigo e com a Carol por mais tempo do que eu esperava. Sua presença foi crucial para me deixar mais confortável, já que não conhecia ninguém ali.
― Papo dez mesmo, não sabia que tu era colega dessa pilantrinha aqui ― Arana parecia supreso em saber que Carol e eu éramos amigas, e pela sua expressão risonha ao encarar a garota, eu podia jurar que eles se conheciam a muito tempo.
― A Karina era uma colega de trabalho, a gente não costumava sair para muitos lugares juntas ― Carol justificou, bebericando um gole da sua bebida que estava em mãos.
Antes mesmo dela se sentar, já tinha pego uma latinha de Heineken e estava saboreando com um pratinho de carnes que tinham colocado sobre nossa mesa. Não tinha muitas mesas nem assentos sobre a laje, mas o pessoal não parecia interessado em se acomodar em algum lugar, a maioria estavam em pé mesmo.
― Tô ligado, quando eu vi tu e ela naquela festa na pista eu não fraguei, se pá vocês duas são muito diferentes ― Arana estava obcecado em encarar Carol e eu, como se acabasse de desvendar um mistério, quando na verdade não era coisa de outro mundo nossa amizade.
― Aquela festa da qual você quase me arrancou pelos cabelos pra me trazer de volta pro morro? ― brinquei, fingindo estar brava ao mesmo tempo que segurava o riso para não entregar.
Eu estava bêbada, quase não conseguia me lembrar de nada que havia acontecido naquela noite, mas de uma coisa eu sei, não estava brava com Arana e nem pudia, deveria ficar brava com o Dom.
― Foi mal pivetinha, mas o chefe mandou te buscar, e ordens são ordens ― Arana se mostrou incomodado ao tocar no assunto, como se realmente sentisse muito por ter me tirado a "força" daquela boate.
― Não entendi porra nenhuma quando vi o Arana levando a Karina da festa do nada ― comentou Carol, toda soltinha após alguns copos de Heineken.
Se passava das três da tarde, havíamos ficado tempo demais sentadas e conversando sobre coisas aleatórias com Arana. Ele parecia ser um bom passa tempo, já que Dom não tinha pretensões de vim falar comigo, na verdade ele tava bem acompanhado da sua namoradinha.
Camila não desgrudou dele um minuto se quer, só não estava grudada no pescoço do Dom, por que todos sabiam que se ela ousasse fazer isso, seria arremessada para longe com um chute. Ele parecia não gostar de grude, mas naquele momento queria me pirraçar, mostrar para mim que eu não era a única da sua lista imensa de garotas com quem podia dormir.
Estava dando amassos na Camila na frente de todos, hora ou outra a puxando para beija-lá, enquanto mantinha aqueles olhos de águia me fuzilando atentamente, era um aviso bem claro de que ele queria que eu assistisse aquelas cenas.
― Preciso ir ao banheiro ― comentei rapidamente, após me da conta de que estava tempo demais assistindo Dom e sua cachorrinha.
Não podia passar o pagode todo secando eles como se me importasse com alguma coisa, ele não era meu e eu não era dele, não tínhamos por que ficar presos um ao outro. E no momento em que me coloquei de pé com a intenção de descer ao banheiro, escutei uma rajada bem alta de tiro.
De início pensei que era algum moleque na laje brincando de atirar pra cima, meus ouvidos não estavam mais sensíveis para aquele tipo de barulho desde que escutei vários tiros no baile, mas quando meus olhos rolaram em minha volta, e eu percebi que estavam todos assustados, aí minha ficha caiu de que não era um simples tiro de comemoração.
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No morro
FanfictionSerá mesmo que o amor suporta tudo? ― Não somos capazes de amar alguém verdadeiramente, quando esse alguém brinca com nosso coração. Em uma favela onde a troca de tiros é constante e a criminalidade predomina mais do que a paz, não há lugar para con...