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𝘒𝘈𝘙𝘐𝘕𝘈

No momento em que abri meus olhos eu já senti uma dor absurda na minha cabeça e uma sensação de peso no meu corpo, queria levantar mas parecia que algo me impedia de fazer isso. E no segundo em que tentei girar o pescoço no travesseiro, fui abençoada com uma bendita dor na nuca que parecia que ia me matar, sem exagero nenhum eu me sentia compactada ali no colchão e não conseguia arranjar uma forma de levantar sem fazer com que meu corpo não doesse. A sensação era de que eu tinha sido moída, atropelada por um caminhão, nem quando tinha minha jornada puxada de trabalho eu havia me sentido tão cansada ao acordar.

Aos pouquinhos que fui captando tudo que tinha em minha volta eu consegui enxergar a cama vazia, Carol não estava mais ali do meu lado, e eu estava completamente largada ao meio da cama como se tivesse passado a noite sozinha naquele colchão imenso. Quando consegui levantar de vez e ainda me sentindo perdida, sem saber horas, sem saber o que se passava, a primeira coisa que fiz foi me certificar do horário no relógio que tinha em cima do criado mudo ao lado da cama. Faltava quinze pros meio dia, o que significava que eu havia dormido muito.

De maneira automática minhas pernas me guiaram em direção ao banheiro do quarto como se eu já estivesse acostumada a fazer aquela rota, mas na verdade aquele ali não era meu quarto e muito menos o banheiro que tomei banho no dia anterior, e só percebi isso no momento em que chequei as coisas da Carol no banheiro. Como já estava ali e não poderia sair do quarto com aquela feição de noiva cadáver, eu usei os produtos de Carol mesmo para tirar o restante de maquiagem que sobrou em meu rosto e lavei por completo. Fiz um coque em meu cabelo por que estava muito armado e aproveitei pra escovar meus dentes ali mesmo, o que mais tinha eram escovas novas espalhadas por aquela casa e ali no banheiro da Carol não era diferente.

Tudo que eu quisesse encontraria ali, inclusive um dipirona de mil gramas que peguei para levar comigo até a cozinha e tomar, assim garantindo que aquela dor de cabeça chata não fosse adiante. Quando percebi que minha expressão estava menos horrorosa, decidi descer até o andar de baixo, mesmo sabendo que poderia vir a encontrar pessoas que não queria ver tão cedo. Dom deveria estar ali, apesar de eu achar que agora ele iria aproveitar para voltar a favela e deixar bem claro que estava na área, aquela também era a casa dele, e eu não tinha como evita-ló. Mas eu tinha que descer, não podia ficar naquele quarto mofando e com fome.

A primeira coisa que fiz ao sair naquele corredor foi rezar para Dom não me ver, não sei se isso era possível mas eu pedi a Deus. Desci a escada com o cu na mão , não queria que ninguém me visse, que ninguém falasse comigo. Já era humilhante estar com aquela mancha roxa enorme no meu pescoço, imagina receber atenção de quem quer que estivesse ali. Mas mentalizar isso não foi suficiente, assim que pisei os pés no patamar que dava acesso a sala principal eu já logo notei que tinha pessoas ali. A voz predominante que escutei era dele.

― Ai não né cuzão, tá tirando onda ― ele protestou contra alguma coisa mas não parecia estar bravo, estava bem humorado e logo depois soltou um riso prolongado.

Eu ia evitar olhar na direção onde ele tava, na imaginava que Dom estava sentado no sofa com Deco provavelmente, mas quando meus olhos correram na direção da sala quase que em modo automático, algo curioso me chamou a atenção. Eram três homem que estavam ali, sentados no sofa jogando vídeo game e entrertendo entre si, Deco e Dom não era novidade alguma, Carol havia me alertado que o irmão passaria a noite por aqui junto ao amigo. O que me deixou supresa foi ver o Arana, o mesmo que havia sido pego com Dom e levado preso, agora estava ali sentado no sofá com um sorriso escancarado como se nem tivesse passado por tudo que passou.

Para minha infelicidade eu fiquei tanto tempo olhando naquela direção que até parei de caminhar, tentando raciocinar onde Arana poderia ter passado aquela noite. Será que eles dois não fugiram junto? Será que o Dom o deixou para trás? Eram muitas dúvidas que reinavam em minha mente, e eu me deixei levar por cada uma delas por tempo suficiente para me verem.

No morroOnde histórias criam vida. Descubra agora