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𝘋𝘖𝘔

Insônia era algo que já fazia parte das minhas madruga, os baseado que eu fumava trazia consequências e no fim da noite eu tava em alerta, ligadão e brisado na maconha. Depois de uma revoada intensa na casa do Arana, onde eu passei grande parte do meu dia, meti o pé pra minha goma, que eu já tava até me esquecendo que existia, de tanto que ficava na rua.

Mente vazia é oficina do diabo, isso era algo que minha coroa dizia, e naquele momento eu só conseguia pensar no quanto ela tava certa. Enquanto bolava mais um baseado nas duas da madruga, eu só conseguia pensar naquela morena que tava fudendo minha vida.

Durante o dia eu até tentava enganar a mim mesmo dizendo que ela era só uma aposta, um pente e rala casual, mas no fim da noite, quando eu tava isoladão na escuridão do meu quarto, eu sabia que não era só uma ficada.

Eu podia até tentar esquecer a nega com outras, assim como eu fiz hoje mais cedo fudendo umas kengas que levei pra casa do Arana, mas no fim de tudo era a maluca da dívida que ocupava minha mente.

Bagulho era tão doido, que nem eu mesmo tava entendendo como tava tão xonado na mina. A intenção era ficar limpo, sem mulher pra atazanar meu juízo, mas pensando bem, por aquela neguinha eu abandonava esse pensamento facinho.

Mas oque não parava de se passar na minha mente, era que naquele momento ela tava fora do morro, provavelmente curtindo em alguma balada bacana da pista. Como eu sabia?

Eu sabia de tudo.

Cada passo que ela dava na favela era calculado, eu sabia que tinha saído da favela por que Deco me passou a visão, me parece que a irmã dele é amiga da morena. O destino me mandou logo as informações necessárias pra ficar grilado, o fato de não saber ao certo onde Karina tava me deixava perturbado.

Querendo ou não eu sentia que tinha um poder sobre ela, e não saber do paradeiro dela era de fuder.

Pra minha sorte eu nem precisei quebrar cabeça por muito tempo, passando das duas da manhã recebi uma ligação. Bastou dois segundos e eu saquei o celular da estante ao lado da cama e atendi, sabia que era ela.

― Onde é que você tá? ― já atendi pistola, encarando a parede branca iluminada apenas pela claridade da lua enquanto descansava o corpo na poltrona ao lado da cama.

― Uou, calma lá ― ela respondeu vagamente, como se tivesse aprendendo a lidar com as palavras. ― Eu estou no mundo mágico. ― disse após um tempo em silêncio, e logo depois soltou uma breve gargalhada.

Pelo barulho do som alto tocando no fundo da chamada e sua voz embargada, eu poderia tirar minhas próprias conclusões.

― Tu tá bêbada? ― perguntei só pra confirmar, mesmo sabendo que ela não iria me dizer.

― Não.. não estou ― diminui o tom de voz como se fosse me confessar algo. ― Mas sabe como estou? ― sussurrou em seguida, usando um tom de voz sério e ao mesmo tempo nada confiável.

Esperei ansiosamente por sua voz no segundo seguinte, mas ela não disse absolutamente nada após, e deixou que a música alta do ambiente contaminasse a chamada.

― Karina ― gritei por ela em busca de uma resposta e levantei da poltrona como um foguete, disposto a ir atrás dela onde quer que ela estivesse.

― Eu estou apertada, muito apertada ― Karina usou um tom exagerado para dizer aquilo, e pela forma embaraçosa que as palavras saíram de sua boca eu poderia deduzir que ela estava quase desmaiando de tão bêbada. ― Quero fazer xixi e essa fila enorme não anda ― gritou em seguida, e eu consegui visualizar mentalmente seu semblante enraivado reclamando com quem quer que fosse lá.

No morroOnde histórias criam vida. Descubra agora