𝘋𝘖𝘔
Quatro da manhã e a invasão ainda não tinha chegado ao fim, por um segundo eu pensei em levar minha tropa de volta pra favela e cancelar aquele plano, já que parecia que nada estava andando pelos conforme. Caveira estava preparado para uma invasão, ele poderia ser burro mas garantiu que os principais pontos de entrada fossem reforçados.
Se foi um trabalho pra conseguir entrar, imagina ai como foi difícil a gente se espalhar pelo morro. Ele tinha homens em todo lugar, desde o momento em que pisamos no jacarezinho não tivemos sossego.
― Tô sem munição cuzão ― avisei em um sussurro para Deco, que estava ao meu lado na viela portando apenas um fuzil e um colete quase vazio e sem balas.
O meu já tinha esvaziado fazia mó cota, minhas munições foram com Deus quando comecei a atirar com minha metralhadora. Precisava repor meu colete com as balas ou iria ficar vulnerável com aquela metralhadora sem munição.
― Tô zerado também irmão ― Deco fez uma careta e conversou mais baixo o possível.
Nós só tava protegidos por um muro de concreto na viela, era necessário falar baixo para que ninguém nos escutasse e descobrisse onde nós tava, pelo menos enquanto a gente não bolava um plano de para onde iríamos. A viela tava escura e sem sinal de ninguém, mas era um lugar muito exposto para ficarmos dando bobeira.
O melhor a se fazer era tentar recuar daquela área.
― Pega isso aqui ― Deco entregou em minha mãos uma Glock G22, com capacidade de portar quinze balas.
― Próximo aqui tem um morro das pedras, talvez de lá nós consiga visualizar melhor a favela ― comentei com esperança e engatinhei a arma, tava de olho em Deco e esperando sua resposta quando fui supreendido por alguem do meu lado.
Foi rápido demais e eu não consegui reagir, estava virado para o lado contrário e quando me virei escutando um barulho suspeito só vi um menor com o fuzil apontado na minha direção pronto pra me executar. Se não fosse Deco do meu lado, com sua rápida reação de atirar no cara eu estaria morto.
Assisti o homem cair como um saco de batatas no chão com um tiro na testa e nem me movi, não era do meu fetio ficar impressionado com muita coisa, e eu ja esperava uma reação parecida a essa vindo do Deco. Ele era meu casca de bala em meio a confusão, ele me protegia e eu o protegia, por isso sempre andávamos colados.
Assim que o barulho do fuzil ecoou pela viela escura, ouvimos barulhos de mais tiros próximo a onde estávamos e pessoas gritaram. Era como se tivessem atentos de que um deles tinha acabado de morrer e viriam atrás de nós naquela viela estreita.
― Vai cuzao, por ali ― sussurrei, empurrando Deco ao sentido contrário de onde o rival veio e Deco logo entendeu o que aquilo queria dizer.
Escutamos mais tiros e as paredes de cimento foram se demonstrando aos poucos com as munições, o que indicavam que eles estavam perto e provavelmente viriam nos seguir. Eu não quis olhar para trás para me certificar de que tinha alguém nos seguindo, só corri o mais rápido que pudi acompanhando de Deco.
― Alguém na escuta? ― escutei uma voz familiar chiar no radinho, era a voz do Arana.
Mas eu não tinha tempo pra ficar conversando no rádio, então ignorei o que ele tinha a dizer e subi a escada íngreme da viela com todo gás. Imagina a supresa quando subimos pra laje e me deparei com dois homens armados dando bobeira lá em cima.
Se apavorar era a última coisa que eu pudia fazer naquele momento, e nem pensar em virar de costas para voltar de onde eu saí se não era tiro na certa. Eu não sei como eu conseguia reagir tão rápido, acho que o tempo de treinamento e prática em invasões te fazem ter um reflexo mais rápido do que você pode entender.
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No morro
FanfictionSerá mesmo que o amor suporta tudo? ― Não somos capazes de amar alguém verdadeiramente, quando esse alguém brinca com nosso coração. Em uma favela onde a troca de tiros é constante e a criminalidade predomina mais do que a paz, não há lugar para con...