No morro

108.

𝘒𝘈𝘙𝘐𝘕𝘈

Como se ja não bastasse Carol ter conseguido me tirar de casa, agora ela também estava me levando para a cova dos leões, me fazendo conhecer um agente da BOPE. Nessa hora vocês devem se perguntar o por que isso é tão problematico. Indo pelo caminho mais resumido, quem é do morro não pode simplesmente decidir fazer amizade com quem é do lado rival, seja ela entre faccoes ou polícia, e eu esperava que Carol soubesse disso.

Não era medo do Dom, isso ia muito mais além do que temer o dono do morro, afinal se desconfiassem que eu estava interagindo com um policial, iriam automaticamente me julgar como traíra. E vai por mim, receber o título de "alemã" no morro é tudo oque eu menos quero, não precisasava de mais dor de cabeça na minha vida. O que eu realmente não consegui entender era como Carol estava tão tranquila mesmo sabendo que aquilo poderia dar muito errado, assim como eu ela foi criada dentro da favela e sabe bem como funciona as regras, muito me surpreendia que tivesse audácia de desafiar o seu próprio irmão.

Estava tão perturbada pensando nisso e agradecendo mentalmente por Conrado ter se afastado de nós que não percebi o momento em que Carol se aproximou de mim e tocou meu ombro, logo tomei um susto. Ela havia se afastado de mim alegando que iria buscar bebidas, então me sentei no sofá pequeno e confortável que tinha em um canto da mesa, não estava afim de ficar em pé e tão um pouco dançar.

― Você sabe que isso é errado ― comentei sem paciência assim que Carol sentou ao meu lado, deixado uma taça de champanhe na mesa acompanhado por whisky e gelo de coco.

Aos redores da nossa mesa eu notava que fartura era o que não faltava, todos os convidados eram privilegiados com a mesa cercada por bebidas das mais caras e aperitivos. E a nossa também não ficou para trás assim que a Carol se sentou e pois a bebida na mesa um garçom devidamente vestido com seu uniforme trouxe para nós uma bandeja recheada com aperitivos de degustação. Até aquele momento eu ainda estava tentando estudar a boate que mais parecia um restaurante com todo seu suporte. Carol franziu a testa como se não entendesse do que eu falava e encarou o garçom atenciosamente o esperando ir embora.

― Do que está falando? ― ela mordeu o lábio, sinal claro de que estava nervosa e depois bebericou bebida para ter mais tempo de articular uma resposta, dessa vez me encarando.

― Estou falando do fato de você estar se envolvendo com esse homem ― aumentei meu tom de voz, indignada por ela estar levando aquela situação tão naturalmente enquanto eu estava quase colocando o coração para fora.

Minha única sorte era que Conrado não parecia muito animado em nos conhecer e sumiu de nossas vistas no momento em que fizemos uma apresentação formal, assim me deixando menos apreensiva sobre o medo de alguém nos ver com ele, ou santão chegar nos ouvidos de quem não deveria, que eu estava me esgueirando para o lado de um policial.

― O Felipe? ― ela indagou, procurando o motivo da nossa conversa ali no camarote, eu também rolei meus olhos na mesma direção que ela olhava para tentar achar o homem, ele estava conversando abertamente com alguns dos seus amigos e cumprimentando cada um por onde passava sendo o centro das atenções, não fazia ideia de quando ele pretendia voltar para nossa mesa mas também não fazia questão assim poderíamos ter uma conversa livre de ouvintes.

― O Felipe não é o grande problema ― ri fraco, para mim era até engraçado a forma como ela estava se desvencilhando do assunto e querendo tirar por menos, não sei oque aconteceu com minha amiga Carol de antes mas eu a queria de volta. ― O irmão dele é polícia, e você sabe bem o que vai acontecer com a gente se descobrir que estamos andando com polícia ― usei meu tom insinuativo, fuzilando Carol com meu olhar mais frio para ela entender o nível da minha raiva.