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𝘋𝘖𝘔

Visão tropa, acordei com uma dor de cabeça do carai por que nem consegui dormir direito eu consegui, passei a noite despertando toda hora com ansiedade só pensando no dia clarear pra me ver minha neguinha, ai juntou com a porra daquela dor nas costas que me tomava toda vez que eu deitava na beliche desgraçada e minha noite foi por água baixo.

Tava parecendo um moleque se preparando pro primeiro encontro, pensando a todo momento em encontrar minha mulher e poder matar a saudade que tava me remoendo. Nunca na vida fiquei assim por mulher nenhuma, nunca fiz questão de ver ninguém, nunca fiz questão de nada e agora tava quase arrancando os cabelos que nem tinha por nervosismo.

Pra despertar fumei meu baseado bolado logo pela manhã por que era de lei, já tinha feito todas minhas necessidades, tomado banho, escovado os dentes agora oque me restava era esperar pelo guarda pra me levarem até a sala de visita, isso se a bonita da Karina tiver juízo e aparecer pra mim. Tava querendo acreditar que ela viria e que logo logo eu veria seu rosto nem que fosse por poucos minutos, já que eu não tinha direito a uma visita na cela por ela não ser nada minha. Inclusive nós ia ter que combinar essa parada direitinho pra essas condições melhorar, não tinha cabimento de eu ver minha gata só duas vezes na semana por uma hora.

Se pá nós ia ter que casar ali mesmo, assinar os papéis que eles ofereciam pra selar uma união e ela poder me fazer visita íntima, era tudo que eu queria. Mas um passo de cada vez, eu nem se quer sabia se ela pisaria na cadeia naquela manhã.

Não queria ligar para Deco pra tirar a dúvida se ela vinha ou não por que algo me dizia que eu iria me decepcionar, então ao invés de esquentar a cabeça com problemas logo cedo e me estressar logo cedo quando descobrisse que Deco não conseguiu trazer ela, eu fiquei apenas fumando um e meditando.

― Relaxa mano, ela vem ― Arana percebeu minha aflição mesmo quando eu estava de olhos fechados no colchão, eu tava calado na minha desde que voltei do café da manhã e não tinha direcionado nenhuma palavra a nenhum dos caras, que estavam jogando truco.

Não queria papo, conversinha fiada por que isso me deixaria ainda mais tenso então fiquei na minha.

― Como tem tanta certeza ― o carinha menor e que tinha espírito fofoqueiro indagou Arana, ele ficou curioso diante a afirmação feita por ele com tanta convicção.

Eu estava na minha de olhos fechados mas até parei de respirar por um segundo para ver oque ele tinha a dizer. Como sal tinha tanta certeza de que ela viria?

― Eu conheço a mina dele, ela não é qualquer uma e vai aparecer ― Arana falou com seu tom manso, ele tinha pego uma simpatia por Karina que era fora do comum de se ver e confiava cegamente que ela viria.

Mas confesso que nisso ele não mentiu.

― Sua vez, nariz de tucano ― o mais velho na cela chamou a atenção do mais novo por estar conversando ao invés de jogando, e dessa conversa ele não quis participar.

Esperei pelo silêncio para voltar a meditar e pensar melhor no que Arana tinha dito, realmente Karina não era qualquer uma e não me deixaria na mão naquele momento de dificuldade, eu só precisava colocar isso na minha cabeça. Mas no segundo seguinte que o silêncio reinou, meus ouvidos foram atingidos pelo barulho de moedas batendo na grade das celas, poderia ser apenas um barulho qualquer mas não era, moedas batendo na cela era um barulho sonoro usado pelos detentos para avisar com antecedência que tinha polícia na área.

Apaguei meu baseado com pressa e o coloquei por debaixo do colchão, não era por que tínhamos acesso a drogas que era permitido, assim como acesso ao celular também não era liberado, e se caso fôssemos pego infligindo as regras lá dentro iria ser pior. Continuei na minha deitado pra manter postura e pensei que a presença do policial no corredor fosse apenas pra checar se tava tudo na ordem.

No morroOnde histórias criam vida. Descubra agora