101 - "Você vai entrar em mim, Mckinnon"

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Eu juro solenemente não fazer nada de bom...

A porta da sala se abriu e Dumbledore entrou com o ar muito grave.

- Professor - ofegou Harry - seu pássaro, eu não pude fazer nada, ele simplesmente pegou fogo...

Tive que me segurar para não rir do desespero dele, Dumbledore sorriu.

- Já não era sem tempo. Ele tem andado com uma aparência medonha há dias; e venho dizendo a ele para se apressar - deu uma risadinha ao ver a cara de espanto de Harry.

- Fawkes é uma fênix, Harry. As fênix pegam fogo quando chega a hora de morrer e tornar a renascer das cinzas. Olhe ele.. - expliquei, e Harry olhou em tempo de ver um pássaro minúsculo, amarrotado, recém-nascido botar a cabeça para fora das cinzas. Era tão feio quanto o anterior.

- É uma pena que vocês a tenham visto no dia em que queimou - disse Dumbledore, sentando-se à escrivaninha - na realidade ela é muito bonita quase o tempo todo, tem uma plumagem vermelha e dourada. Criaturas fascinantes, as fênixes. São capazes de sustentar cargas pesadíssimas, suas lágrimas têm poderes curativos e são animais de estimação muitíssimo fiéis - devagar, corri o dedo pela cabecinha acinzentada e quente de Fawkes.

O diretor então se sentou à mesa e nos fitou com seus olhos azuis claros penetrantes.

Mas antes que Dumbledore pudesse dizer uma palavra, a porta da sala se escancarou com um estrondo e Hagrid entrou, um olhar selvagem nos olhos, o gorro encarrapitado no alto da cabeça desgrenhada e um galo morto balançando em uma das mãos.

- Não foi Harry, prof. Dumbledore! – disse Hagrid pressuroso - Eu estava falando com ele segundos antes daquele garoto ser encontrado, ele nunca teria tido tempo, senhor...

Dumbledore tentou dizer alguma coisa, mas Hagrid continuou falando, sacudindo o galo, agitado, fazendo voar penas para todo o lado.

- ... Não pode ter sido ele, eu juro até na frente do Ministro da Magia se precisar...

- Hagrid, eu...

- ... O senhor pegou o garoto errado, meu senhor, eu sei que Harry jamais...

- Hagrid! - disse Dumbledore em voz alta - Não acho que Harry tenha atacado essas pessoas.

- Ah - acalmou-se Hagrid, o galo pendurado imóvel a um lado - certo. Então vou esperar lá fora, diretor.

E saiu num repelão, parecendo constrangido.

- O senhor não acha que fui eu, professor? - repetiu Harry esperançoso, enquanto Dumbledore espanava as penas de galo de cima de sua escrivaninha.

- Não acho que tenha sido qualquer um de vocês dois - soltei o ar que estava segurando - mas ainda quero falar com vocês. Harry, Madeline, tem alguma coisa que vocês queiram me contar?

Quase pude ouvir a cabeça de Harry trabalhando furiosamente em diversas direções diferentes, mas a minha estava vazia. Tem algo que eu quero contar ao diretor?

Pensei na poção que Ron, Mi e Harry estavam fazendo no banheiro da Murta, na ofidioglossia de Harry, na maldição da casa dos fundadores.

- Não - respondemos juntos - nada - nos levantamos para ir embora, mas Dumbledore me chamou.

- Weasley, fique por favor.

Me sentei novamente em uma das cadeiras de frente pra ele.

- É de meu conhecimento que você está bem próxima de Alexander Mckinnon, estou certo? - assenti.

- Por quê? Está interessado nas fofocas de Hogwarts, professor? - ele sorriu.

- Eu e Minerva nos juntamos uma vez por semana para contar o que sabemos de novidade, mas este não é o objetivo dessa reunião - soltei uma risada surpresa, e o diretor piscou um olho - não, o objetivo desta reunião é lhe fazer um pedido. Talvez o sr. Mckinnon não tenha contado para a senhorita, mas ele é um legilimente - ergui uma sobrancelha - e está começando a missão de aprender a lidar com os próprios poderes. Pedi que me dissesse uma pessoa em quem confia, e ele me deu o seu nome - sorri de leve - e agora te pergunto: você confia nele?

- Em que sentido, professor?

- No sentido de deixá-lo ver suas memórias e pensamentos - pensei por um segundo, e estava prestes a negar quando o homem acrescentou - se ultrapassar seus limites, é só dizer e ele para imediatamente - pensei mais um pouco. Não poderia ser tão ruim, e Alex precisava de ajuda.

- Ok - Dumbledore se recostou na própria cadeira.

- Bom - abriu a porta com um movimento de mão, e Alexander estava parado no batente.

- Você concordou? - foi a primeira coisa que ele disse, olhando confusamente nos meus olhos.

- Concordei - dei de ombros - talvez eu me arrependa, mas eu não seria eu mesma se não aceitasse desafios extremamente arriscados, então.. - ele sorriu.

- Obrigado - se sentou na cadeira ao meu lado, agora virado para o diretor - como faremos isso?

- Você vai entrar em mim, Mckinnon - ele engasgou e começou a rir, e eu tapei a boca com as duas mãos quando percebi o que tinha dito - na minha mente, na minha mente! - corrigi com urgência entre gargalhadas.

- Por Deus Maddie, pense antes de falar - ele disse, se esforçando para conter as risadas. Dumbledore mantinha um sorriso pequeno e educado.

- Ah, a adolescência - suspirou - bem, Alexander, ela não está errada. Seu objetivo é entrar na mente de sua amiga e conseguir alguma informação específica, tal como sua cor favorita.

- Qualquer informação?

- Alguma previamente definida, que ela mesma poderá escolher - os dois olharam pra mim.

- Hm.. meu nome do meio?

- Qual deles? Não que importe, eu sei todos. Algo mais difícil - pediu.

- Beleza, que tal... o primeiro animal de estimação do meu irmão Charlie?

- Que específico.

- Isto eu sei, sua mãe me enviou uma carta muito irritada reclamando por eu ter dado o livro Animais Fantásticos e Onde Habitam de presente para ele no Natal - Dumbledore riu-se.

- Você iniciou a obsessão dele, professor - ri também.

- Bem, creio que seja bom o suficiente - virei a cabeça para Alex, que olhava pra mim.

- Então vamos lá - mordi o interior da bochecha - uma pergunta, eu tenho que pensar nisso ou tentar não pensar nisso?

- Pode pensar na informação para começarmos - assenti, e o loiro estendeu a mão pra mim, que franzi a testa.

- Fica mais fácil assim - coloquei minha mão na dele, e fiquei encarando - feche os olhos, Weasley. Sei que sou muito bonito, mas não pode ficar me admirando - revirei os olhos antes de fechá-los.

Visualizei, o mais vividamente que pude, o pequeno dragão azulado que Charles levou casa depois do seu segundo ano em Hogwarts.

Alex apertou minha mão e eu senti sua consciência lentamente escorrendo para junto da minha. Foi esquisito.

Fui levada, então, por uma corrente de memórias.

Eu e Rony divertindo Ginny com bolhas de sabão enfeitiçadas para terem o formato de animais; Bill me ensinando a fazer cálculos com frações; Charlie lendo em voz alta o livro favorito dele; Charlie indo embora para a Romênia; Charlie voltando do primeiro ano em Hogwarts dele e me abraçando antes de todos os outros irmãos; eu recebendo uma carta onde Charles contava sobre seu novo animal de estimação e me pedindo ajuda para escondê-lo da mamãe (Alex apertou minha mão com mais força); e então, finalmente, eu brincando com um pequeno dragão azul turquesa, cuja boca jorrava fogo nas minhas mãos, sem realmente machucá-las.

Mas Alexander não parou por aí.

...Malfeito feito.

Outra Weasley - Harry Potter {pausada}Onde histórias criam vida. Descubra agora