capítulo 41

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Eleonor

    
Ao adentrar a casa, a tensão era palpável, pesando nos meus ombros. Michael estava na sala, tentando forçar um sorriso, fingindo preocupação que já não me convencia. Cruzei a sala com pressa, evitando seu olhar inquieto, dirigindo-me rapidamente ao quarto.

A raiva estava em ebulição dentro de mim, intensificada pelas lembranças recentes que me deixavam magoada e traída. Não tardou para que Michael se dirigisse até o quarto, a intrusão indesejada que eu esperava, trazendo consigo palavras vazias e tentativas de suavizar o clima tenso.

— Está tudo bem? —  ele perguntou, com uma falsa preocupação que me irritou. Mas eu já estava à beira de explodir. — Ele te machucou?

    Comecei a rir.

— Não. Ele foi muito bom. — digo com puro asco — Tipo ele sabe como se comportar com alguém que ele se importa. Deveria aprender com ele Michael. Como ser homem sacou?

   Ele fechou a expressão e eu nem tremi, eu quero ir embora dessa casa e vou.

— Esqueceu? Ele tentou te matar...

— Muita gente tentou me matar. — Refuto — Mas ninguém foi tão covarde quanto você Michael. Não vai me matar não esse Eleonor denovo não.

— Eli, eu sei que estamos na merda, e estamos fodidamente bravos. Mas eu te amo merda! Deve significar algo né?

— Não. Não significa. — digo encarando seus olhos com puro ódio — Amor mão enche barriga e amor não me tirou da merda quando meu pai morreu. Foi ódio, dor e desprezo. Porque eu sei! Que ninguém me ama.

Antes que ele tente falar algo eu o interrompi.

— Não o suficiente para me fazer feliz. — digo rindo — preciso de mais do que um eu te amo. E...Não, não está tudo bem.

    Respondi, minha voz trêmula e carregada de decepção.

— Estou cansada de ser tratada como uma opção secundária. Cansada de fingir que tudo está bem quando estou sufocando por dentro.

— Eu sinto muito. — ele disse — eu faço o que quiser não chore.

— Chorar? Me poupe cara, eu quero bater i meu carro no mundo ou morrer de overdose. Não chorar. Chorar e coisa de gente fraca.

   Ele tentou explicar, oferecer desculpas, mas suas palavras eram como golpes na ferida aberta em mim. Cada explicação soava como mais uma facada, alimentando a mágoa e a sensação de traição que eu tentava conter.

—Eu confiei em você — murmurei, os olhos queimando e refletindo a dor da traição. —Pensei que fosse diferente, que fosse mais do que isso. Mas parece que estava enganada, não é?

♕❅

    As paredes do quarto pareciam pressionar meus pensamentos em meio à escuridão. Cada passo naquele espaço confinado repercutia minha indignação, como se o ar estivesse carregado com a energia pesada da raiva reprimida.

   Desde aquela conversa desastrosa com D, a tensão entre mim e Michael se tornou insuportável. Cada olhar, cada movimento dele parecia um gatilho para uma erupção de sentimentos desenfreados dentro de mim. Ele não entendia. Não podia entender.

   Ficar distante dele dentro daquela casa imensa tornou-se minha forma de autopreservação. Evitar confrontos, evitar me render às emoções que se chocavam contra minha mente, era minha única maneira de me manter íntegra, mesmo que por um fio.

   Naquele dia, ao voltar para casa, Michael já estava lá, esperando, clamando por uma reconciliação, por um entendimento. Mas não podia mais aceitar suas desculpas. Não podia mais permitir que ele desconsiderasse minha dor. Não aguentei, meu estômago estava doendo e eu tive um dia de quedas. Era um péssima hora.

— Eu vou parar de jogar. Vou ficar na Graymori. Eleonor você está perdendo peso, está com olheiras e eu ouço você vomitar.

— É por causa dos treinos. Não me incomode. — digo passando por ele. — e se vai parar de jogar espero que foda minha irmã na sua mesa de escritório. Parece ótimo. Vocês sempre foram um bom casal.

— Caralho Eleonor que porra que eu fiz para você me odiar tanto, eu só...não entendi.

Retirei a franja do rosto e encarei ele com raiva e com muita vontade de gritar que eu sou uma pessoa que odeia tudo. E que não aguenta mais as merdas da irmã mais velhas do cara que ama. Ninguém me enxerga! Ninguém liga para mim, ninguém olha para mim. Ninguém é meu pai nessa merda.

— Eu passei minha vida toda achando que era uma idiota, que só merecia os restos da Rika, que não poderia ter nada porque meu pai morreu por minha causa — a raiva nas palavras refletia o turbilhão dentro de mim. — E você não pode simplesmente me tratar como uma criança mimada, ou me usar como uma boneca. Eu não sou sua boneca! Sou uma pessoa, com traumas, problemas e inseguranças. Não sou uma mera posse para você pegar, colocar um anel no dedo e proclamar 'é minha'. Você tem que merecer estar comigo, porque estar comigo é um privilégio.

— Eleonor, eu sinto muito. Por favor.

— Por favor? Eu que deveria pedir por favor. Você fodeu minha cabeça quando eu tinha quatorze anos. Se me amava como diz, porque caralhos pegou a Rika antes de vir até mim e fez questão de esfregar na minha cara que podia pegar a irmã mais velha depois de simplesmente enfiar a mão na minha boceta. — Digo muito puta.

— você era criança! Eu não queria ser um criminoso.

— Oh! — coloco as mãos na boca — mas fazia o inferno subir na terra pelos seus amigos. Fez um inferno na vida da Rika. Dizer que me amava era pesado demais?

— eu queria fazer certo porra!

— Certo? Michael...você nunca fez nada certo, eu morreria para ter uma pessoa como Damon na minha vida. Alguém que me arrumasse pra caralho mas nunca, escute nunca me tratasse como uma boneca, você me perseguiu por cinco fodidos anos, me enviando mimos, me ameaçando você e seu irmão. Eu me senti suja, uma puta. Uma vadia.

   A respiração acelerada ecoava no silêncio carregado da sala, cada palavra jogada com uma força quase física. Ele tentou falar, desculpar-se, mas eu o cortei, meus olhos fixos nos dele, um misto de raiva e decepção transbordando por toda parte.

— Você não é esse privilégio. Não tem esse direito — concluí, minha voz soando rígida, finalizando nosso diálogo tão doloroso quanto necessário.

   Não quando todas as vezes na minha vida eu fui segunda opção e a coitada. Ah...a maldita voz de dentro da minha cabeça começou:

Como você é malvada, ele te ama, você o ama mas não o quer, o que você acha que vai ter Eleonor? Um príncipe, você é uma bruxa, uma vadia. Uma pessoa que não pode ter mais do que a irmã mais velha. Lembre-se, você roubou seu pai da sua mãe, da sua irmã, do mundo. Aguente sua carga vadia. Você merece não ter amor, não ter carinho, viva pelo gelo, morra no gelo e que seu fim seja no gelo.

Corrupt: It was never meOnde histórias criam vida. Descubra agora