78.

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Lara.

Um bagulho estranho. Fogos de artifício estourando.

Arregalei os olhos e vi índio descendo.

Índio: tão invadindo, caralho. - falou assustado. - vai porra, pega teu celular e vai pro esconderijo. - disse abrindo uma portinha e pegando um fuzil.

Meu celular começou a tocar. Número desconhecido.

Fiz careta e não atendi.

Estranho.

Um aperto forte no peito, minha respiração ofegante, neguei. Logo senti índio tocando no meu ombro, me olhando óbvio.

Índio: Lara, não é hora. Por favor, cara. - me sacudiu. - vai pro esconderijo, não sai de lá.

Eu: não vai. - pedi, sussurrando.

Índio: eu tenho que ir, irmã. - murmurou. - vai logo, eles vão vim aqui.

Tinha algo errado. Muito errado.

Eu odiava quando tinha invasão.

Logo ouvi batendo na porta. Arregalei os olhos e Índio apontou com a cabeça, fui correndo pra onde a gente sempre se escondia quando éramos mais novos.

Assim que adentrei na salinha, ouvi uma voz estranha e logo barulhos estridentes de tiro.

Coloquei a mão na boca para evitar o grito. Meu peito parecia que ia rasgar. Tudo que passava na minha mente era meu irmão.

Meu Deus do céu. Santo Deus.

Eu queria muito sair dali, mas e o medo? Respirei fundo e depois de alguns minutos bateram na porta.

Índio: eu tô bem. - falou baixo. - não saia daí até alguém vim te buscar.

Eu: Igor... Por favor. - supliquei.

Índio: eu te amo. - escutei os passos se afastando.

Fiquei encarando a parede, várias merdas passando na mente.

Meu celular tocando, nome da minha mãe, logo meu pai e depois KN.

Meu pai ligou de novo, e eu logo atendi.

Vargas: TU TA AONDE? - a respiração ofegante entregando que tava na guerra. - E TEU IRMÃO? ELE TA CONTIGO?

Eu: tô no esconderijo. - murmurei. - índio não tá comigo, pai. Ele saiu com um fuzil. - meu pai soltou um "caralho". - antes de sair, alguém entrou aqui, teve tiro, mas eu não vi.

Vargas: NÃO SAI DAI, LARA. - ouvi tiros novamente. - VOU MANDAR ALGUEM TE BUSCAR AI. TE AMO!

A ligação foi desligada. E a cada minuto, meu coração se apertava mais.

[..]

Mais de horas aqui, e nem sinal de ninguém.

O caos estava alojado na comunidade. Barulho de pessoas gritando, crianças chorando. O cheiro de queimado. Barulho de carros explodindo. E eu não tinha nem o que fazer. Falei com mamãe e ela estava mega preocupada. Na hora da invasão, ela tava na pista, pra glória divina. Eu não tive essa sorte.

Papai nem sinal, índio também não.

KN ainda ligou algumas vezes, mas só atendi 1.

Nesse exato momento, ligando novamente.

Encarei o visor, respirando fundo. Não era hora de se fazer de difícil.

Eu: o que? - suspirei.

KN: você tá aonde? - sua respiração era afobada. Ergui a sobrancelha.

Eu: eu que te pergunto. - murmurei. - você saiu de casa, KN?

KN: no mermo lugar né? Tô ligado onde é... - respondeu, e logo ouvi alguém batendo na portinha.

Eu: tem alguém aqui. - sussurrei. - KN, tem alguém aqui. - falei ficando apreensiva.

KN: não abre. - falou rápido. - tô chegando, fica na ligação.

Eu: tá chutando a porta. - falei mais baixo. - meu Deus KN. - falei já sentindo a lágrima rolar.

KN: respira. - pediu. - tu fechou do modelo que teu pai ensinou? - concordei. - então não vão conseguir abrir. Tô perto já.

Eu me tremia, meu coração parecia que ia pular pela boca. Vez ou outra KN me lembrava que tava ali.

A ligação caiu, e eu encarei a porta. A pessoa falava algo estranho, nada com nada. Fiz careta e logo ouvi a voz de KN e barulho de dois tiros.

O sangue ameaçava adentrar ali, fechei os olhos e escutei alguém batendo na porta.

KN: Larinha. - falou alto. - sou eu. Sou eu, Lara.

𝒰𝓂 𝒷𝓇𝒾𝓃𝒹𝑒 𝒶 𝓃𝑜𝓈.   - 𝟤° 𝒯𝐸𝑀𝒫𝒪𝑅𝒜𝒟𝒜Onde histórias criam vida. Descubra agora