— Putz — foi a única coisa que Mikaela disse depois que Victória lhe contou sobre a prima e Eric, enquanto comiam um lanche no refeitório da escola, na hora do intervalo. — Mas então… é agora que você precisa fazer alguma coisa, certo?
— Tipo o quê? Não posso voltar no tempo para fazer Emily desconhecer Eric. Cara, que ódio. Sabe o pior? Ele nem notou minha presença, foi como se eu não estivesse ali com minha prima. Sequer me disse um “oi”. Babaca mal educado. Viu o que te falei? Pra preservar a beleza dele, é melhor nem conhecê-lo. As pessoas logo mostram os defeitos e ficam feias.
Mikaela tomou um gole de seu suco de pêssego.
— Ele deve ter te notado, sim. Você sabe que a escola inteira te conhece. Eric deve ser como os outros.
— Como assim?
Mikaela deu de ombros.
— Deve ter medo de você também. Talvez ele tenha pensado que você não responderia o cumprimento dele. Além do mais, não sei porque se importa com isso. Você nunca fez questão que as pessoas falassem com você, Vic. — Ela ergueu uma das sobrancelhas finas. — Vai me dizer que seu coração tá amolecendo.
— Não seja idiota, Mikaela. Pro coração amolecer é necessário ter um. E você sabe que não tenho.
— Então, pensa em fazer alguma coisa pra afastar Eric da sua prima?
— Óbvio. Mas ainda não decidi. E não pense que é sobre sentimentos, tá? Só não acho justo a Emily ter chegado aqui ontem e, de repente, já fazer amizade com o cara mais gostoso da escola.
Mikaela quase se engasgou com o suco.
— Você disse "Gostoso"?
— Sim, ué. Ai, pelo amor de Deus. Você acha que eu sou cega? Não tenho coração, mas tenho olhos. Mas toda essa beleza dele só vai se manter intacta se nunca conversarmos. Ele é um quadro de museu, lembra?
— Cara, às vezes você tem umas teorias muito bizarras. Aliás, você sabe que a escola toda já tá falando da sua prima, né?
— Nem me fale. É por isso que eu não queria ser vista com ela na escola. Agora a idiota ficou popular por minha causa.
— Estão dizendo que ela é muito diferente de você. Que é mais fácil de interagir e mais bonita também.
— Dizem isso só porque ela é ruiva e tem olhos verdes. Você sabe como os brasileiros pagam pau pra gente assim só porque é mais difícil de ver.
— Mas você não fica com medo de ela se tornar mais popular e você cair no esquecimento?
— Não vai acontecer. É por isso que toda semana faço questão de lembrá-los quem eu sou. Ai, droga — Victória resmungou, ao relancear os olhos para a entrada do refeitório e avistar Emily, com uma bandeja em mãos.
Abaixou um pouco a cabeça e tentou se esconder por trás da cabeleira cacheada de Mikaela para não ser vista.
Porém a amiga fez uma careta e virou o pescoço. Victória bufou e encolheu os ombros. Era tarde, a prima a viu e caminhou em sua direção.
— Oi. O refeitório tá tão cheio, posso sentar com vocês? — perguntou, a voz melosa.
Victória sorriu, o não pronto na ponta da língua. Porém, Mikaela se adiantou:
— Claro.
Ela trincou os dentes. A amiga perdeu o juízo. Afastou-se um pouco e Emily sentou ao lado dela, com a bandeja contendo uma água de coco e um daqueles sanduíches naturais que custavam o olho da cara. Ela não pode comer porcarias como uma adolescente normal?, Victória pensou.
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A Vilã
Подростковая литератураVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...