O infortúnio do aniversário

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Ao longo da semana, Emily tentou distrair a mente com os preparativos para o aniversário de Victória. Depois daquela oração sofrida, esforçava-se para continuar com os devocionais todos os dias, mas se sentia incomodada e um nó se formava na garganta toda vez que tentava louvar a Deus, como se tentasse sufocá-la. Na sexta-feira, ela saiu com Eric para comprarem balões e enfeites para o aniversário da prima. A garota não comentou com ele que seus pais não aprovariam o namoro. Pelo contrário, agiu normalmente, como se tudo estivesse bem. Depois, Emily escondeu toda a decoração no quintal da casa de Monique, pois Victória nunca ia até lá. 

Quando o sábado chegou, Emily viu a prima e a tia saírem cedo para o restaurante e aproveitou para organizar tudo em casa. Mandou mensagem para os amigos. Eric alegou que estava trabalhando e só ficaria disponível à noite. Já Mikaela, estava ocupada ajudando a mãe a arrumar a casa. No fim, por volta de quatro da tarde, Davi apareceu e ajudou a afastar os móveis da sala. Ambos foram ao quintal, pegaram uma mesa de madeira antiga de Monique, junto com a decoração e colocaram na sala. Àquela altura, o lugar estava uma bagunça. Vários pacotes de bexigas pretas espalhados pelo sofá (que eles escoraram perto da porta), papel crepom roxo jogado na mesa de centro e várias fitas. 

— Como tá seu lance com Eric? — Davi perguntou, depois de um tempo, quando pendurava um barbante na parede, em cima de um banquinho. 

Ela encolheu os ombros. Davi não podia ter escolhido um assunto mais fácil para falar? 

— Eu tô apaixonada.

— Ah, é? — questionou ele, ainda de costas para ela, focando no nó que fazia no barbante. — Ele corresponde?

— Acho que sim, mas… deixa quieto.

— Ah, não. Fala aí, pô. 

— É que meus pais não acham que devo namorar agora. 

— E daí? São os seus sentimentos e a sua vida, Emily. Dane-se o que eles pensam.

Ela franziu as sobrancelhas.

— Ei, também não é assim! Eu preciso da aprovação deles, tá? Se não não tem como dar certo. Deus não aprovaria um namoro que os pais não aprovam. Além do mais, Jesus me disse pra esperar. Estou tentando entender as coisas, mas tá difícil. Eu orei muito esses dias e só ouvi respostas negativas, mas juro que Eric é boa pessoa. Então, pensei que talvez as vozes sejam inseguranças minhas, por causa do meu ex. Mas sei lá… meu coração ainda tá apertado com essa história toda. 

Ele deixou uma risada escapar.

— Deus continua falando com você? Na sua cabeça? Isso é bizarro. Depois eu que sou esquisito. Pior! Você ouve várias vozes e não sabe quem é quem. Isso tem nome: esquizofrenia. Devia se tratar, viu, fresca? 

Ela franziu as sobrancelhas.

— Eu não sou fresca. E é possível discernir sim a voz de Deus. Ele sempre fala algo sobre a bíblia. 

— Então, se você pensa na bíblia, talvez Deus seja mesmo contra você o Eric ficarem juntos.

Ela coçou a nuca.

— Não funciona beeem assim. Às vezes, o diabo também usa a bíblia.

— Poxa vida, todo mundo lê essa bíblia, só eu que não. 

— Às vezes é difícil interpretar o que Deus me fala — disse ela. — Ele aparece com uma voz tão mansa e suave que eu preciso estar muito em paz pra ouvir. Nenhuma outra voz pode ser maior. E agora… me sinto confusa, talvez por causa do que sinto.  

— Talvez não estivesse confusa se você e o Eric já tivessem se pegado. Se eu fosse você, aproveitaria o momento da festa hoje e já resolveria logo isso. 

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