— O que aconteceu entre você e sua prima, Victória? — Monique perguntou, quando elas estavam a caminho do restaurante naquele dia. A garota tinha as pernas cruzadas sobre o banco do passageiro no carro e escrevia freneticamente em seu caderno, os dedos furiosos voando sobre o papel, enquanto mascava um chiclete e fazia bolinhas com a boca. Sequer ergueu os olhos para a mãe.
— Nada.
— Não parece. Por que ela iria passar uns dias na casa da Mikaela tão de repente?
Victória fechou o caderno por um momento.
— Por que não me pergunta como foi na escola hoje?
— Porque você sempre dá as mesmas respostas curtas. É o mesmo que falar com as paredes.
Victória suspirou e ergueu a cabeça, sentindo-se triunfante.
— Dessa vez quero contar. Foi o maior caos, sabia? Na hora do intervalo, dois amigos da Emily caíram no soco e ninguém sabe o motivo, foi do nada. Mas o pessoal tá achando que é por culpa dela.
Monique arregalou os olhos.
— Ai, meu Deus! Emily deve estar arrasada! Será que isso tem a ver com o fato de ela ter saído de casa?
Victória revirou os olhos.
— É mesmo, mãe. A Emily deve estar arrasada. — Balançou a cabeça e voltou os olhos para o caderno. — Não sei porque perco meu tempo tentando te contar as coisas. Só… dirige aí e me deixa com meus pensamentos.
— Por isso ela está na casa da amiga?
— Sei lá.
— E você? Por que desistiu do clube de leitura? Pensei que gostasse. — Victória ergueu os olhos para o vidro da frente. Naquele dia, deveria ter ficado até mais tarde na escola para participar do clube, mas acabou desistindo e ligou para Monique buscá-la logo depois das aulas. Entrara no carro tão rápido que foi como se estivesse fugindo da polícia.
— Eu gosto. Não desisti, só não quis ir hoje.
— Olha lá, hein? Você precisa ser mais responsável com as coisas. Não pode abandonar o clube assim. — Ela suspirou. — Você e sua prima estão muito estranhas, isso não tá me cheirando a coisa boa.
Victória deu de ombros. O que fazia da própria vida não era da conta da mãe. Sabia que a mulher jamais a entenderia e sempre arrumaria pretextos para defender a protegidíssima da Emily. Não diria a ninguém porque não quis ficar no clube. Levaria seus motivos para o túmulo. Ainda sentia cócegas na barriga quando lembrava do beijo de Eric. Nem em seus sonhos mais idiotas imaginou que isso aconteceria um dia. Quem Eric pensava que era para mudar tudo? Sequer estava a fim dele (não mais). Certamente, foi movida pela curiosidade em saber como era beijar alguém e se deixou levar pelo momento. Ou foi infectada por alguma bactéria presente no parque para ter correspondido ao beijo daquele jeito. Lembrou-se de reclamar que o rapaz não se afastou, mas ela também não entendia porque não tentou fugir. Por que foi tão fraca? Por muito tempo, pensou estar imune a essas coisas. Não devia ter se rendido a um beijo que no fim só lhe trouxe frustrações. Mal falara com Brenda na escola, desviara-se da menina como se ela fosse o demônio em sua frente. Ressentia-se com o fato de ter acatado a ideia idiota dela. Mas também, não tinha como prever aquela reação de Eric, tinha? Dadas a estas circunstâncias, decidiu que precisava de um tempo longe do rapaz. Talvez ele fosse portador de algum vírus que estava infectando sua mente e a fazendo ter pensamentos e atitudes estranhas, como a do beijo.
Mas que droga, esquece o beijo, Victória!, brigou consigo mesma, internamente.
Seus pensamentos sempre davam voltas e de alguma forma voltavam para o ocorrido. Começavam como “nossa, preciso fazer o dever da escola” e terminavam assim “Eric me ajudou em matemática, que envolve raíz quadrada, e a raíz me lembra as árvores e, por um acaso, a gente se beijou perto de uma…”
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A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...