Noite do encontro

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Fazia mais de cinco minutos que Victória estava rindo do nome do restaurante que Rafael escolheu eles para jantarem. Pegaram uma mesa com sofás cor-de-vinho nos fundos, próximos de algumas janelas. O cheiro de churrasco pairava no ar e o som do tintilar de talheres podia ser ouvido de qualquer lugar. 

O mais curioso é que no centro do restaurante, havia uma pequena pista redonda e um telão projetado numa das paredes. Algumas pessoas seguravam uns microfones nos pedestais e cantavam como loucas, tudo muito desafinado. 

Victória não imaginava que riria tanto tão cedo novamente. Deduziu que isso ainda fazia parte do seu surto psicótico. 

— Tá, não é pra tanto — Rafael comentou, começando a ficar constrangido. — Daqui a pouco vai vir um garçom e perguntar se você tá passando mal. 

— Pelo amor de Deus, o nome do lugar é Pacumê. Deve ter sido fundado por algum tiozinho das ceias de natal, que sempre faz a mesma piada quando vê um pavê na mesa. — Ela colocou a mão na testa e viu que a crise de risos superaqueceu seu rosto, além de fazer sua barriga doer. — Imagina quantas pessoas não vêm aqui e fazem essa piada? — perguntou, inclinando-se sobre a mesa. — Ah, o garçom tá vindo. 

Rafael piscou.

— Não, você não vai…

— Com licença, moço — disse ela. — Vocês servem pavê? 

O garçom sorriu para ela. 

— Muito engraçado, mas é melhor olhar o cardápio — disse, meio sem graça, meio bem-humorado.

— Valeu — Victória respondeu e ele saiu.

Rafael se encolheu um pouco no banco.

— Você é doida. 

— O que você viu no restaurante da minha mãe não foi nada. — Ela pegou o cardápio e começou a ver as opções. — Cara, não tem uma opção de hambúrguer aqui.

— É porque não servem lanche, só porções e o jantar. Mas relaxa, vai poder escolher o que quiser, eu pago. 

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Vou pegar do mais caro, porque gosto de dar prejuízo. Já sei! Agora, escolhe o seu.

— Já escolhi.

Então, Victória se adiantou e chamou um garçom. Depois que fizeram os pedidos, Rafael ficou olhando para ela, analisando seu rosto.

— Você tá diferente. Muito espirituosa, falante, até agora não reclamou de nada e nem reclamou de ninguém do restaurante da sua mãe. Confesso que tô ficando assustado. 

Ela apertou os lábios no sorriso mais falso do mundo.

— Espera até passar tempo o bastante comigo. E não aconteceu nada, tô do mesmo jeito — mentiu. Sabia que o sentimento de leveza e paz ainda dominavam seu coração e a estavam deixando eufórica, sem motivo aparente. 

— Sei…

Ela cruzou as mãos sobre a mesa, determinada a mudar de assunto.

— Então, você deve ser uns três anos mais velho que eu. Por que resolveu sair com uma adolescente em vez de alguém da sua idade? Ninguém interessante por aí? Ah, só pra constar, não tô sendo grossa, é uma dúvida sincera. 

— Até tem umas garotas interessantes, mas nenhuma como você. 

— Ainda acho que até o fim da noite você vai se arrepender de sair comigo. A começar quando vir o valor da conta. Eu como pra caramba, você não faz ideia. 

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