— Ei, Vic.
— Diga. — Ela mantinha os olhos no jogo, concentrada.
— Seria errado eu falar que te amo?
Ela soltou uma risada em escárnio.
— Você não seria o primeiro, Eric. Aliás, parece que deu a louca em muita gente ultimamente, porque vivem falando que me amam. Mas não sei se acredito muito nisso. Na verdade, até me incomoda os ouvidos.
— Por quê, amor? Eu sei que cê fez muita besteira na vida, mas isso não é o suficiente pra impedir que alguém te ame.
— Não me parece justo, Eric. O amor é pra quem merece, pra gente de bom coração.
Ele deu um beijo em seus cabelos.
— Não, o amor está além das nossas ações. Ele é de graça. Você não paga pra ter e não precisa fazer nada pra receber. Se deixar as pessoas te amarem, cê vai ver como o amor vai te fazer bem.
— Não dá. Eu não acho que tenha alguma solução, embora esteja indo pra Minas em busca de uma. Acho que é minha última tentativa de resgatar pelo menos um pedaço da minha alma. Ficarei feliz se tiver pelo menos uns vinte e cinco por cento de bondade.
— Você se critica demais, sabia? Pega muito pesado com você mesma, mas não deveria. Eu queria te emprestar meus olhos só pra você se ver do jeito que te vejo.
— Então, eu me apaixonaria por mim — disse a garota, em um tom divertido.
Ele riu um pouco.
— Não seria má ideia.
— É sobre isso que você aprende na igreja?
— Mais ou menos.
— Ei, Eric. Você acredita mesmo em Deus, tipo de verdade?
— Acredito.
— Eu sempre fiquei numas reflexões sobre a vida. Tipo, a gente aprende na escola que tudo existe por causa de um Big Bang. E os professores fazem tudo parecer um grande acaso, mas também vejo uns vídeos na internet às vezes tipo… acho que é loucura pensar que tanta coisa veio do acaso, né? Tudo parece tão perfeitamente calculado.
— A matemática de Deus é perfeita. E aliás, cê devia aprender com ele. Aí não erraria na escola.
Ela lhe deu uma cotovelada nas costelas e ele riu.
— Pra mim é impossível não acreditar nele — a menina confessou. — Só que nunca fomos íntimos.
— Por quê?
— É melhor assim, cada um no seu canto. Tenho minhas opiniões e ele tem as regras. A gente não se daria muito bem. Além do mais, andei meio chateada porque pintam Jesus com uma imagem de bondade e ele não fez nada pra impedir a morte do meu pai.
— Mas Jesus é bom, princesa. Às vezes, até retira algumas pessoas dessa vida, por bondade. Afinal, o que é melhor: viver nesse mundo caído, cheio de problemas, sujeito a feridas e dor ou morar num reino perfeito, sem nenhum sofrimento?
Ela ergueu a cabeça e o encarou, os olhos brilhando em esperança.
— Acha que meu pai tá num lugar melhor e vivendo feliz agora?
— Claro.
Ela voltou os olhos para a revistinha e deu um sorriso fraco, sem mostrar os dentes.
— Então, tá.
— Pela minha religião, seria super errado tudo o que estamos fazendo hoje. Devo ter quebrado umas quinze regras.
— Imagino. Mas você não se sente mal com tudo isso?
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A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...