Victória olhou para o cartaz no mural, na parede de entrada da escola, e riu. Vira Emily lendo livros poucas vezes na vida e a imagem fora meio perturbadora, pois não passavam de romances melosos e a bíblia. Agora, ela achava que podia fundar um clube do livro só por causa disso? Devia ser uma piada. E ela realmente estava rindo, até pensar que a prima estava fazendo isso para agradar Eric, que era um leitor assíduo.
— Devia participar — comentou Emily, aparecendo ao seu lado de repente.
Victória lamentou o fato de a garota ter se recuperado rápido da lesão no tornozelo e ter aparecido na escola uns dois dias depois, caminhando normalmente.
— Por quê?
— Quando tive a ideia do clube de leitura, estava pensando em você. Queria que tivesse um espaço só seu e sei que você vive na biblioteca.
Emily estava errada sobre dois pontos. Primeiro: se o clube envolvia outras pessoas, então não seria um espaço só dela. Segundo: Fazia dias que a menina não passava mais o intervalo na biblioteca, porque estava evitando encontrar com Eric. Não fora capaz de esquecer suas palavras no dia da apresentação do grêmio. Pegara tanto ranço dele que chegou a sonhar com o rapaz sendo atropelado por um caminhão ou morrendo queimado num incêndio, dentro da própria casa. Às vezes, via-o de costas descendo as escadas da escola e sentia vontade de empurrá-lo.
— Pensou errado. Tô nem aí pros seus clubes idiotas — resmungou, cruzando os braços. Em seguida, Victória relanceou os olhos para os portões e viu Eric entrando. Arregalou os olhos um pouco. — Preciso ir. — E correu, sem mais nem menos, para se esconder no jardim dos fundos, atrás daquele carvalho que já estava se tornando um de seus lugares favoritos na escola.
Em algum momento, olhou para trás e espionou a prima ainda na frente do mural, porém agora conversava com Eric de um jeito muito animado, mexendo nos cabelos, balançando a perna. Ele, por outro lado, sorria muito para ela.
O que está acontecendo? Eles estão flertando?, Victória pensou.
Então, deu um tapa na própria testa. Fazia dias que desconfiava de alguma coisa. De repente, a tonta da prima começara a ver filmes de Star Wars e se demorava na sala. Não combinava com Emily. Era como ver um gorila usando biquíni. Pelo pouco tempo de convivência com ela, Victória aprendera que a prima era uma pessoa rasa. Muito inteligente, mas rasa, falava de assuntos muito comuns com muita gente e sempre que tinha a chance mencionava alguma coisa sobre Santos. Agora, ela via certos clássicos do cinema e até estava lendo livros. O que estava acontecendo?
Victória não podia ter se deixado amedrontar tanto pela chantagem de Eric. Não estava disposta a cumprir sua parte, só precisava de tempo. Além do mais, sempre voltava do restaurante da mãe exausta e isso a dificultava de pensar em algo. Bom, aparentemente, Monique estava certa. Com a porcaria do emprego, dificilmente ela conseguiria atrapalhar a estadia de Emily em São Paulo. Mas então, o que poderia fazer?
Pense, pense, pense.
Não chegou a nenhuma conclusão, mas ficou aliviada de ouvir o sinal tocando e os pombinhos se despedindo, cada um tomando o rumo de suas salas.
Mais tarde, Victória se apoiou no balcão do restaurante Casa do Sabor e grunhiu. Mal chegou e já teve que atender dois fregueses insuportáveis. Uma mulher com a filha pequena que não parava de bater o pé debaixo da mesa, fazendo um batuque horrível; e uma jovem com seu namorado, de melação na mesa. Deviam ir para um motel. Victória odiava pessoas se beijando perto dela e ficou sem jeito na hora de interromper o momento do casal para perguntar o que eles queriam.
Para variar, Viviane estava de folga e ela aguardava os pedidos dos fregueses ficarem prontos. O movimento estava fraco.
— O que foi dessa vez? — Rafael perguntou, digitando alguma coisa no computador.
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A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...