A vingança perfeita

5 2 0
                                    

Ele é todo seu.

Victória se arrependeu amargamente pelo que disse à Emily. De alguma forma, suas palavras aproximaram ainda mais Eric da garota. Dia após dia, ela chegava na escola e os via conversando pelas escadas ou no refeitório, na hora do intervalo. Davam risadas, inclinavam o corpo na direção um do outro e até se tocavam sutilmente nos ombros e nos braços. Pareciam cada vez mais envolvidos. Enquanto isso, Victória era obrigada a andar com Brenda para cima e para baixo todos os dias. A menina ainda cismava que Eric e Emily não deviam ficar juntos e, apesar de tudo, sempre contava sobre eles para a garota. 

No clube de leitura, Victória fazia de tudo para evitar o garoto. Sentava-se longe e raramente debatia sobre algum livro com ele. Na hora de ir embora, esperava todo mundo sair da biblioteca e saía por último. Ainda admirava a forma quase sempre detalhada com que Eric debatia sobre os livros e derrubava os argumentos dos colegas, mas nunca diria nada disso em voz alta. Sequer arriscava olhar em sua direção por muito tempo. 

No restaurante, Victória mostrava os rascunhos de seus textos para o velho Nicolau, que nunca perdia a chance de ouvir suas histórias, por mais mirabolantes lhe parecessem. A menina entrou num caminho sem volta. Passou a falar de seus textos com a mesma facilidade com que contava para o pai, quando mais nova. Às vezes, passava dos limites e levava algumas broncas de Rafael. Quando Victória recebeu o primeiro pagamento, Monique pegou uma parte do salário e o entregou à Emily, conforme prometido, embora a menina relutasse muito em aceitar. 

Victória continuou com os pesadelos terríveis, mas sempre era consolada por Emily e acordava sem lembrar de nada. 

O tempo passava correndo como uma lebre, sem se importar com os desavisados. Logo, era abril e os ventos começaram a mudar. O frio entrou pelas portas das casas furtivamente, como um ladrão noturno, buscando roubar a saúde dos mais frágeis. Victória teve umas crises fortes de rinite. Em alguns dias, sequer pôde ir à escola. A menina olhava o tempo esbranquiçado pela janela, enrolada em uma manta azul-escuro. A chuva fina e gélida caía devagar, umedecendo o solo e as plantações próximas à sua casa. Então, ela sorria discretamente e concluía que o dia estava lindo. 

Quando Victória voltou para a escola, respirou fundo e sentiu-se renovada. Afinal, era bom ter as narinas funcionando corretamente de novo. No entanto, percebeu que as pessoas falavam cada vez menos dela. Apenas recebia os olhares de desdém. Isso era perigoso, porque logo os colegas pensariam que podiam se aproximar e tentar fazer amizade. Mas também, ela não podia culpá-los.  Andara tão ocupada com os estudos e o restaurante que se esquecera de praticar as maldades com o pessoal da escola.

Sem mais delongas, vamos ao dia em que Brenda apareceu agitada na escola e ficou escorada numa parede perto dos portões de entrada, esperando por Victória. Assim que avistou a garota, puxou-a pelo braço na direção do jardim dos fundos, na ala oeste. 

Victória se soltou da menina, irritada.

— Ei, quem você pensa que é pra me arrastar assim como um cachorro?

Brenda riu.

— Desculpa. É que tenho um assunto urgente pra contar, não dá pra esperar.

— Então fala logo.

Ela começou a andar de um lado para o outro.

— Ele vai pedir ela em namoro amanhã.

— Quê?

— Meu irmão, idiota. Você sabe que ele me conta tudo, né? Então, ele estava me contando que vai pedir Emily em namoro, até me mostrou um anel. 

— Isso só pode ser brincadeira.

A VilãOnde histórias criam vida. Descubra agora