No domingo, Emily começou a se arrumar logo cedo para ir ao churrasco na casa de Eric. Sentia-se tensa e com a mesma sensação de incômodo no peito. Aquela voz falando que não deveria se envolver com o rapaz. Ao mesmo tempo, vinha outro pensamento lhe dizendo que estava traumatizada com Theo e tinha medo de dar uma chance para alguém que ela sabia ser melhor do que ele.
Emily saiu de casa por volta de meio-dia e andou por algumas ruas até chegar numa ladeira e ficar aliviada por não usar salto, apenas uma sapatilha confortável. Bem que Eric lhe avisara que morava no topo de uma subida. Passou por uma placa amarela dizendo “rua sem saída” e seguiu reto. Conforme subia, avistou várias casas fechando a rua em um círculo. Aproximou-se de um portão basculante preto, semi aberto e verificou se era mesmo a casa de Eric. Viu vários carros estacionados e um homem saiu da casa com um copo descartável em mãos.
Emily conferiu o número da casa e viu que era o certo, mas de algum jeito ficou acanhada demais para entrar lá.
— Oi, você vai entrar? — perguntou o mesmo homem que saiu.
— Ah, eu… sou amiga do Eric.
Ele sorriu amplamente.
— Eu sou o tio dele, César. Tudo bom? — Estendeu a mão, todo simpático.
— Sim…
— Então, vai entrar? Quer que eu chame ele? Posso dar um grito daqui, ele tá na sala muito envolvido em um jogo de videogame com alguns amigos. Quando isso acontece, dificilmente alguém consegue tirá-lo de lá. Mas sei que você não é qualquer pessoa, então acho que ele vem.
Sei que você não é qualquer pessoa.
O comentário aumentou seu nervosismo, de alguma forma. Eric falava dela para a família?
— Ah, eu não quero atrapalhar ele. Vou entrar, com licença.
Emily passou pelo portão e percebeu como a casa de Eric era alta. Bateu os olhos numa garagem com um portão semelhante ao outro, porém preto. Depois, subiu a tampa ao lado dela, entrando num corredor longo e espaçoso. Sentiu cheiro de fumaça e ouviu vozes conversando. Olhou para os fundos da casa e percebeu que o churrasco vinha de lá. Porém, parou perto de uma porta pivotante cor-de-vinho, que se encontrava aberta. Ficou sem saber para onde ir, mas decidiu entrar. Deu pequenos passos e viu alguns garotos sentados num sofá vermelho, entretidos com um videogame, na televisão. Depois, ficou encarando a rampa enorme nos fundos da sala, que parecia dar acesso a outro cômodo. Era como uma daquelas esteiras de shopping ou rampas de estacionamento. Porém com um corrimão de alumínio.
Emily segurou a bolsa entre os dedos, na frente do colo e foi se aproximando devagar, até um dos meninos erguer os olhos na direção da porta.
— Aí, cara. Acho que sua gata chegou — disse aleatoriamente.
Emily corou com o comentário, porém Eric ergueu os olhos e a viu.
— Oi, sweetie. — Ele entregou um dos controles na mão de um menino e ficou de pé. Foi até a garota e lhe cumprimentou com um beijo na bochecha. — Nossa, você tá mesmo uma gata. — Depois, apresentou a menina para cada um dos garotos e todos pareceram muito legais. Até perguntaram se ela gostaria de jogar também, porém Emily recusou. Nunca vira sentido nesses jogos de videogame. Então, Eric passou sua vez no jogo para um menino e disse para ficarem à vontade. Passou a mão nas costas de Emily e a conduziu até uma cozinha cujas paredes eram cobertas por azulejos e tinha uma porta que dava acesso à área dos fundos. Emily correu os olhos pelo ambiente e os voltou para Eric depois.
— Por que os móveis são tão baixos?
Ele enfiou a mão no bolso.
— Minha mãe é cadeirante. Por isso também as rampas. Quer beber alguma coisa? — perguntou, indo até a geladeira cheia de ímãs, abrindo-a em seguida.
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A Vilã
Fiksi RemajaVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...