A caminho da destruição

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O dia seguinte veio com pancadas de chuva tão intensas que pareciam pedras batendo no vidro da janela. Victória resmungou algo sobre querer faltar na escola, porém Emily estava genuinamente feliz. Lembranças da noite anterior dançavam em sua mente. Pela primeira vez na vida, sentia que estava se dando bem com a prima. Nunca tivera uma conversa de verdade com ela, como ontem. Então, por mais que o céu estivesse fechado, seu coração estava aberto, assim como o sorriso em seu rosto. 

Pela primeira vez, quando terminou de descer as escadas, Victória a esperava na sala para irem juntas à escola. A menina ainda resmungou algo como “anda logo, você vai me fazer atrasar”. Mas isso era apenas seu jeito rabugento, não era maldade. 

Cada uma pegou um guarda-chuva e caminharam pelas calçadas, pulando as poças de água. Mesmo assim, chegaram na escola com os pés molhados. Graças a Deus o portão já estava aberto e elas entraram. Emily murmurou um “boa aula” para a prima, enquanto ela só disse “tá” e subiu as escadas da ala leste correndo. 

Assim que Emily entrou em sua sala, notou alguns olhares estranhos sobre si. Umas meninas a encaravam e balançavam a cabeça. Um garoto sorriu para ela como se a estivesse paquerando e podia ter jurado que ouviu alguém dizendo “piranha” quando ela passou. 

Davi já estava no lugar dele. A professora ainda não tinha chegado. Alguns garotos começaram a rir quando ela se inclinou para falar com o menino, que estava zangado. 

— O que aconteceu? Por que parece que todo mundo tá falando de mim e não de um jeito bom? — a menina perguntou. 

— Não parece, eles estão. São uns babacas, deviam cuidar da vida deles. 

Ela sentiu o coração acelerando e teve um péssimo pressentimento. 

— Davi, me explica o que tá acontecendo? — perguntou, tentando manter a calma. 

— Olha só, eu…

— Bom dia, turma! Vamos cada um sentar nos seus lugares? — disse a professora, entrando na sala e acabando com qualquer chance de conversa. Era dia de prova e ela fez questão de organizar as fileiras de modo que os alunos pulassem uma mesa e sentassem longe uns dos outros. 

Emily perdeu a chance de conversar com o amigo naquele momento, mas também mal conseguiu se concentrar na prova. As palavras se embaralhavam na sua frente e, de algum jeito, ela precisava ler as mesmas questões várias vezes, porque ficava dispersa. Na troca de aula, quando todo mundo voltou para seus lugares originais, Davi falou baixinho:

— Na hora do intervalo, não sai da sala. Precisamos conversar e eu quero te situar sobre o que tá acontecendo. 

Emily assentiu. 

Viu-se agitada durante as próximas aulas, balançando a perna ou brincando com uma caneta entre os dedos. Olhava para os professores e não entendia as explicações que davam sobre as matérias. Quando finalmente o sinal para o intervalo tocou, os alunos saíram depressa. O professor terminou de ajeitar as coisas dele e saiu depois.

Emily se viu sozinha com Davi na sala. O garoto, por sua vez, foi até a porta, olhou para fora e depois a fechou. Então, aproximou-se de Emily e sentou numa cadeira, virado para ela.

— Eu preciso que você fique calma — começou. — Boatos são… não é nada de mais. Sua vida não depende disso e vai ficar tudo bem. Vamos dar um jeito de resolver.

Ela sentiu o ar deixando seus pulmões logo na primeira frase.

— Fala logo, você não é de enrolar pra falar as coisas.

— Mas é que eu tô tentando encontrar o jeito certo de falar. Cara, eu tô com um ódio, se pudesse sairia batendo em todo mundo. 

Emily sentiu os olhos enchendo de lágrimas e começou a sacudi-lo pela blusa.

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