Bem-vinda ao lar

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É agora que a nossa dança começa, Victória pensou. Deu alguns passos para frente, os dedos tocando as lombadas dos livros nas prateleiras da biblioteca, os olhos acompanhando todos os movimentos do rapaz no corredor ao lado. 

Eric olhava para o outro lado, como quem observa vários livros. Quando parava de andar para analisar uma capa em específico, Victória parava também. Valseava com o garoto sem que ele se desse conta. Porém, a música que tocava nos fones de ouvido dela era pesada. Não combinava em nada com a dança lenta e imaginária que ela fazia com Eric. 

Não tenho pressa, bebê. Podemos ficar aqui o dia todo, a menina pensou. Não apressaria os passos enquanto Eric não o fizesse primeiro. Ele esticou o braço e pegou um livro no topo da prateleira. Victória não fazia ideia do conteúdo, mas aproveitou a oportunidade para observar as costas largas do garoto. 

Então, ele deu alguns passos adiante, o rosto bronzeado enfiado no livro. Ficou tão entretido que sequer percebeu o olhar da menina. 

Ambos chegaram ao fim dos corredores ao mesmo tempo, mas ela endireitou a postura e fingiu que não o viu. Seguiu caminho passando entre as mesas redondas de madeira até chegar em seu lugar de sempre, perto da janela pivotante. Sentou-se numa cadeira e abriu o livro que estava segurando. Leu por cinco minutos e ergueu a cabeça. Os olhos foram diretamente para onde Eric se sentou. A única mesa da biblioteca que estava localizada no exato lado oposto ao dela. Victória sempre achou esse fato bizarro. Olhava para outras mesas e as via tão desorganizadas e desproporcionais que ainda não acreditava no fato de sua mesa ser tão simétrica com a de Eric. 

Quando os olhos de Victória voltaram para as páginas do livro, perdeu-se dentro dele. Todas as pessoas ao redor não existiam mais até a mão súbita e inesperada de sua melhor amiga fechar o livro com força, obrigando-a a erguer os olhos do papel e arrancar os fones dos ouvidos.

— Você ficou surda? — Mikaela perguntou. — Fiquei te chamando, mas não posso gritar aqui, né? 

Victória deu um sorriso forçado, estreitando os olhos. 

— Feche o livro na minha cara outra vez e eu acabo com você. Aliás, não deveria nem estar aqui. Você sabe que meus momentos de intervalo na biblioteca são sagrados. Nunca mais interrompa minha leitura, sua estúpida — disse, com rispidez. 

A amiga olhou para a mesa de Eric e sorriu fracamente para a garota depois.

— Vic, já faz dois anos. 

Ela estreitou as sobrancelhas grossas.

— O quê? 

Mikaela suspirou, puxou uma cadeira e se sentou ao lado dela. 

— Dois anos que você se afunda neste lugar e fica olhando pro Sr. Bonitão ali. — Apontou para Eric com a cabeça. 

— Não venho aqui por ele. O fato de coexistirmos no mesmo lugar é uma mera coincidência. 

— Quase nunca passamos o intervalo juntas, só quando você tá com muita fome e resolve pegar comida na cantina. Por que não lê seus livros em casa? 

Victória suspirou.

— Você tá carente? Precisa viver colada em mim? 

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