CENTO E DEZ - DÁRIO

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Donatello atende ao telefone com o cenho franzido, a expressão séria e um olhar que só se intensifica a cada palavra que ouve. Quando desliga, o silêncio na sala pesa ainda mais, como a calmaria antes da tempestade. Ele se vira lentamente para Sofia, o rosto impassível, mas com uma raiva contida brilhando nos olhos. Sem aviso, ele cruza o espaço entre eles e desfere um tapa forte que a derruba ao chão, como se fosse um golpe planejado, uma execução silenciosa de sua frustração e descrença.

Ela cai, os cabelos espalhados pelo rosto, mas ergue o olhar, orgulhosa mesmo na dor, os lábios trêmulos, mas sem emitir som algum, sem ceder ao que ele espera ver. Ele a encara de cima, o desprezo estampado em cada linha de seu rosto.

— Então, a princesinha mentiu. Não é prometida a Dante. — Ele faz uma pausa, absorvendo o impacto de suas próprias palavras, quase como se saboreasse o gosto amargo da traição. — Dante rompeu com você, e agora é prometida ao caçula dos Caputo, Massimo. Tentou nos enganar, nos fazer acreditar que o príncipe encantado viria ao resgate. — Ele ri, uma risada amarga que ecoa pela sala, um som tão frio quanto as palavras que saem de sua boca. — E tudo não passou de uma mentira.

Ela se levanta lentamente, os olhos faiscando de raiva, o rosto marcado pelo golpe, mas não quebra o olhar, não oferece a satisfação de uma súplica.

— Se está achando que isso vai me quebrar, é porque não conhece a força que tenho — sussurra, a voz baixa, carregada de desafio.

— Força? — Donatello arqueia uma sobrancelha, os lábios se curvando num sorriso cruel. — Não passa de uma peça nesse jogo, e agora, nem mesmo Dante te quer. Está sozinha, menina, e sem escapatória. Se o caçula dos Caputo vai te aceitar, isso pouco nos importa. Mas não há ninguém, ninguém, que vá te tirar daqui agora.

Ela engole em seco, mas o olhar não cede, e vejo ali uma faísca de algo que poucos têm a coragem de demonstrar na posição dela. Talvez até algo que me surpreenda. Porque, mesmo sob o peso das circunstâncias, ela não se dobra. Há algo nela que resiste, algo que, no fundo, faz com que todos na sala sintam um desconforto sutil, uma sensação de que essa luta, por mais desigual que pareça, ainda não está decidida.

Ela respira fundo, endireitando a postura, como se seu próprio corpo fosse uma fortaleza inquebrável.

— Se me subestimam, pior para vocês. Talvez ainda não saibam o que é ter uma Cadore como inimiga.

Ela limpa o sangue no canto da boca com as costas da mão, sem perder o sorriso que desafia qualquer um a tentar dobrá-la. Há algo de insolente naquele riso, algo que desperta uma mistura de raiva e admiração. Não é como Mariela, que, diante do medo, desmoronava, chorava e implorava por misericórdia. Não. Esta garota se levanta do chão, o rosto marcado pelo golpe, mas com o queixo erguido, como se nada pudesse realmente quebrá-la.

— Acham que esse tapa me assusta? — A voz dela soa clara, cortante, e os olhos brilham com um desafio quase hipnotizante. — Sou ainda noiva de um Caputo e filha de um Cadore. — Ela lança um olhar frio, sem um traço de medo, e por um instante, é como se fosse ela quem tivesse o controle ali, e não nós.

Há algo perturbador naquele olhar, algo que me força a enfrentá-la com uma seriedade que eu mesmo não imaginava sentir. Ela não é a típica garota assustada que esperávamos encontrar; é uma fera escondida sob o verniz de beleza e vulnerabilidade. Cada palavra dela é um golpe invisível, e a sala inteira sente o peso de sua presença.

Donatello tenta conter a raiva, mas vejo o músculo pulsar em sua mandíbula, uma fúria prestes a explodir. Ele se aproxima dela, os dedos coçando para retribuir o desafio, mas ela apenas ri, uma risada baixa e insolente que faz o ar na sala parecer mais denso.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora