SESSENTA E TRÊS - DANTE

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O mordomo interrompe o silêncio com um leve pigarrear, anunciando a chegada do médico. Não queria ser interrompido, especialmente agora que começava a perceber algo mais em Chiara, mas dou um aceno de cabeça e permito que ele entre. O homem veste seu jaleco impecável e carrega um envelope em mãos, seus passos discretos ecoando no chão de mármore.

— Está tudo em ordem com ela — diz o médico, me estendendo o envelope com os resultados. — Os exames estão normais, e os testes para ISTs e gravidez deram negativos.

Minha mão segura o envelope, mas meus olhos se voltam para Chiara, que ainda come à mesa. Ela parece tão focada no ato de se alimentar que quase não percebe a nossa conversa. Observo o brilho fugaz de alívio que passa por seu rosto quando percebe que está, de fato, fisicamente bem.

— Só queria garantir que estava tudo bem com você — comento, mais para mim mesmo do que para ela, tentando suavizar o peso da situação.

Mas então, algo muda. Chiara pausa com o garfo no ar, seus dedos tremem levemente antes que o utensílio caia sobre o prato. Seu corpo parece tensionar, e quando ela finalmente levanta o olhar para mim, há lágrimas silenciosas descendo por suas bochechas. Um soluço suave escapa de sua garganta, um som que rasga o ar silencioso da sala, e eu sinto uma pontada desconfortável no peito.

Merda.

Levanto-me da cadeira imediatamente, meu coração batendo mais rápido do que deveria. Não entendo o porquê daquele choro repentino. Não gosto de vê-la assim, vulnerável, exposta de uma maneira que nem os ferimentos físicos conseguiram expor.

— Ei, o que aconteceu? — pergunto, me aproximando devagar, quase com cuidado, como se ela fosse se quebrar ao menor toque.

Ela leva a mão ao rosto, tentando limpar as lágrimas que insistem em cair. Sua voz falha ao tentar responder, e mais lágrimas rolam por suas bochechas. Eu me inclino sobre a mesa, minha preocupação crescendo com cada segundo.

— Por que você está chorando? — insisto, agora a centímetros de distância dela. O calor do meu corpo mistura-se com a frustração crescente de não saber o que fazer para confortá-la.

— Eu... eu não sei — responde ela, a voz embargada, tremendo como uma folha ao vento. — Talvez porque... depois de tudo... eu nunca pensei que alguém se importaria... comigo.

Suas palavras me atingem como um soco. Fico parado, tentando processar o que ela disse. Merda, como alguém pode pensar que não merece o mínimo de cuidado? Mesmo depois de tudo que passou, ela ainda está aqui, viva. Mais forte do que muitos poderiam ser em seu lugar.

Me aproximo, hesitante, e coloco uma mão em seu ombro, sentindo a fragilidade dela contrastar com a força que ela tem.

— Você está segura agora. Eu vou cuidar de você. — As palavras saem antes que eu possa pensar direito, mas há uma sinceridade ali que me surpreende.

Chiara assente, tentando controlar o choro, mas as lágrimas continuam a escorrer. E, por mais que eu queira parar o fluxo, sinto que talvez ela precise disso. Precisamos disso.

Eu suspiro, tomando um momento para absorver o peso da cena, o peso dela e o meu. O mundo ao nosso redor parece congelar enquanto ficamos ali, presos em algo que não sabemos explicar.

— Vá se recompor, Chiara — digo, finalmente. — As coisas vão melhorar. Eu prometo.

Sem aviso, Chiara se levanta da cadeira e me agarra em um abraço forte, desesperado, como se as palavras fossem insuficientes para expressar o que sente. Posso sentir a tensão de seu corpo, a fragilidade que ela tenta esconder por trás de sua força recém-descoberta. Seus braços ao redor de mim são como um pedido mudo por segurança, por alívio.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora