CINQUENTA E NOVE - DÁRIO

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O ambiente na vasta sala de estar da casa de meu pai está carregado de risadas e de um zombar cruel que me atinge como golpes. Davide, com um copo de conhaque na mão, está no centro das atenções, seu riso ressoando alto e claro, enquanto narra aos outros — Donatello, Diógenes e ao velho — a história de como fui ludibriado por Chiara. Cada palavra é uma lâmina que corta a fachada de calma que tento manter.

— E então, nosso querido Dário pensava que tinha o coração dela nas mãos! — Davide gesticula com teatralidade, seu sorriso largo de escárnio. — Mas enquanto ele sonhava com juras de amor, a pequena estava fazendo jogos duplos!

A risada que segue de Donatello e Diógenes é como vinagre em feridas abertas. Observo o trio, a bile subindo pela garganta, as mãos fechadas em punhos tão apertados que as unhas quase perfuram a pele. Meu olhar se fixa em Davide, que agora ostenta um sorriso presunçoso, saboreando a humilhação que me inflige.

— Acha isso engraçado, Davide? — Minha voz sai baixa, perigosamente calma, um claro aviso da tempestade que se avizinha.

Davide me encara, um traço de desdém adornando suas feições enquanto ele dá de ombros, despreocupadamente.

— Oh, Dário, não leve tão a peito. — Ele sorri, provocativo. — Todos sabemos que no nosso mundo, as mulheres são tão traiçoeiras quanto belas. Você só foi mais um a cair no conto do vigário.

A tensão no ar é palpável, e sinto o peso dos olhares de meu pai e dos meus irmãos sobre mim, analisando cada movimento, cada respiração. Eles esperam uma explosão, talvez até desejem por ela, para terem mais uma história para contar.

Respiro fundo, lutando contra o impulso de lançar-me sobre Davide e mostrar-lhe exatamente como trato traições e insultos. Mas a presença do meu pai, o chefe da família Fiore, me lembra das consequências de perder o controle.

— Davide, talvez deva lembrar que nem todos têm o prazer de serem feitos de tolos publicamente. — Minha fala é cortante, cada palavra marcada com um veneno que não escondo. — E cuidado, irmão, a roda gira, e quem hoje ri, amanhã pode ser o motivo da risada.

O velho, até então em silêncio, intervém, sua voz um rugido baixo que reverbera pelas paredes ornamentadas da sala.

— Basta! — Ele se levanta, a autoridade inquestionável. — Davide, controle sua língua. Dário, não deixe que provocações te reduzam. Somos uma família e devemos agir como tal, mesmo em desavenças.

O silêncio que segue é tenso, carregado com palavras não ditas e ameaças veladas. Davide recua, o sorriso desaparecendo em um instante, enquanto eu continuo imóvel, a fúria ainda fervendo no meu peito. A reunião prossegue, discutindo remessas, territórios e alianças, mas a imagem de Chiara, a mulher que supostamente me amava, não sai da minha mente. A dor da traição se mistura com a raiva, uma combinação explosiva que juro, em silêncio, nunca mais permitir que me domine.

Caminho até o bar, a respiração controlada, como se tivesse apenas informado sobre um pequeno detalhe operacional. Pegando o copo de cristal, sirvo-me de um generoso conhaque, o líquido âmbar brilhando à luz suave do lustre. O primeiro gole desce queimando, como a fúria que ainda arde dentro de mim.

— Chiara está morta — digo finalmente, girando o copo entre os dedos, meu olhar fixo na bebida. — Currei a vadia por horas, até o último suspiro. Ela sofreu. Cada lágrima, cada grito. Fiz questão de prolongar o prazer de ver a dor escorrendo por sua pele antes de acabar com ela.

Davide arqueia uma sobrancelha, um sorriso debochado brincando nos lábios enquanto Donatello e Diógenes permanecem em silêncio, observando-me como predadores que analisam um rival.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora