Resgatada pelo mafioso - Livro Um

CENTO E TRÊS - DANTE

Marco me lança um olhar, e eu vejo no rosto dele que essa conversa está longe de terminar. Ele sabe que estou ciente das implicações do que fiz ao romper com Sofia, e ele espera que eu lide com as consequências disso com a mesma frieza que ele sempre demonstrou.

Chiara ao meu lado permanece em silêncio, mas sinto sua força, sua presença constante. Ela me entende de uma forma que ninguém mais pode entender. Mas mesmo ao lado dela, sei que o caminho à frente será tortuoso. Massimo agora está envolvido de uma forma que não pode escapar, e mesmo que eu o tenha puxado para esse inferno, não há nada que possa fazer para salvá-lo do destino que nosso pai traçou para ele.

Ao olhar ao redor da sala, sinto o peso do poder da nossa família. O jogo de alianças e traições, de decisões que definem vidas, é um jogo perigoso, e estamos todos presos nele.

Sento-me na sala, o silêncio opressor pairando no ar enquanto minha mente trabalha incessantemente. Preciso resolver a situação com Estela antes que as coisas saiam ainda mais do controle. Minha decisão de romper com Sofia já causou repercussões suficientes, e agora, com Ettore envolvido nessa jogada impensada, o equilíbrio de poder que sustenta nossas alianças está por um fio. Não posso mais permitir que a inércia me domine. Preciso agir.

Levanto-me e encontro Ettore perto da entrada da sala, casual demais para o caos que ele provocou. O peso da nossa história e da responsabilidade que carrego por minha posição dentro da família me pressiona, mas não me abala. Caminho até ele, minha voz firme e determinada.

— Preciso que me leve até onde Estela está.

Ettore me olha por um momento, o brilho insolente nos olhos escurecendo por um breve instante, como se soubesse que, dessa vez, eu não estou pedindo. Estou ordenando. Ele dá de ombros, soltando um suspiro como se essa fosse apenas mais uma inconveniência em seu dia.

— Lorenzo está com ela — ele diz com um tom despreocupado. — Na casa de campo.

Sinto a raiva se elevar dentro de mim, mas mantenho minha calma exterior. A casa de campo. Claro. O lugar onde Lorenzo tem controle total. O lugar onde ele se isola para cuidar de assuntos que prefere manter longe da curiosidade de olhos alheios. Um lugar que conheço bem, mas que, nesse contexto, me deixa inquieto.

— Vamos — digo, sem deixar espaço para debate.

Ettore hesita por um momento, mas acena com a cabeça, resignado. Caminhamos juntos para fora, o peso do que está por vir pairando entre nós. O motorista já nos espera, o motor do carro ronronando suavemente na garagem. Entramos no carro, e o silêncio entre mim e Ettore é pesado, carregado de tudo o que não foi dito, de todas as perguntas que ele sabe que evito fazer, mas que ainda assim queimam dentro de mim.

O caminho até a casa de campo é longo, e enquanto a paisagem passa em um borrão, minha mente revisita cada decisão, cada erro, cada movimento que levou a esse ponto. Estela é uma Fiore. O sangue que corre nas veias dela carrega uma história de rivalidades, alianças frágeis e traições silenciosas. E agora, está nas nossas mãos, em nossa casa de campo, sob os cuidados de Lorenzo. Isso pode muito bem ser o estopim para uma guerra que nenhum de nós está preparado para enfrentar.

Quando finalmente chegamos, o lugar parece tão pacífico quanto sempre, uma ilusão de tranquilidade que nunca me convenceu completamente. A casa de campo da nossa família é isolada, cercada por hectares de floresta, longe de qualquer vizinhança ou presença indesejada. O portão de ferro range ao se abrir, e o motorista nos conduz pela longa estrada até o casarão de pedra que se ergue imponente à nossa frente.

Desço do carro com Ettore ao meu lado, o peso da responsabilidade se acomodando sobre meus ombros como um manto. Lorenzo não me espera na entrada, o que já me irrita. Eu sei que ele gosta de jogar seus próprios jogos, mantendo o controle sobre cada situação como um mestre de marionetes. Mas dessa vez, ele foi longe demais.