SETENTA E SETE - DANTE

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A tensão entre nós atinge um novo nível. Não é o medo que domina agora, mas sim o desejo de conhecer mais, de compreender. As paredes desse reservado, que para mim sempre significaram controle e domínio, hoje se tornam o espaço para algo novo. Um lugar onde Chiara pode começar a reconstruir o que Dário destruiu.

Ela respira fundo, seus olhos nos meus, como se finalmente tivesse tomado uma decisão.

— Podemos ir embora quando quiser — murmuro, com a voz baixa, acariciando suavemente o braço dela. Chiara parece suspirar de alívio, mas, em vez de se afastar, ela desaba nos meus braços, os soluços tomando conta do seu corpo frágil. Meu coração aperta ao sentir o tremor em sua pele, o som abafado de sua dor invadindo o espaço silencioso ao nosso redor.

Ela agarra minha camisa com força, os dedos cravados no tecido, e entre lágrimas e palavras engasgadas, começa a contar. Palavras pesadas, impregnadas de dor e vergonha, sobre o que Dário fazia com ela. Cada frase é um golpe invisível no meu peito. Ela fala de chicotes, correntes, de consoantes frios e impessoais que ele usava para quebrá-la, para arrancar dela cada pedaço de dignidade. Ela fala da dor, mesclada aos orgasmos forçados, um ciclo vicioso de prazer deturpado e tormento que ele impunha.

— Ele não parava... — a voz dela falha, os olhos fixos no chão, como se estivesse revivendo cada momento. — Ele me prendia, me fazia implorar... não por prazer, mas por alívio. Ele sabia o que estava fazendo comigo, Dante. Ele sabia exatamente como me destruir.

Sinto o calor de suas lágrimas encharcando meu peito, sua dor tão palpável que ecoa em mim. Porra, eu sabia que Dário era um desgraçado, mas ouvir Chiara revelar essas memórias, essas marcas invisíveis, me faz querer caçá-lo no inferno e acabar com ele de uma vez por todas.

Envolvo-a em meus braços com mais força, sem querer soltar, e beijo sua testa com cuidado. — Bambina... — sussurro contra a pele dela, minha voz embargada pela raiva e pela necessidade de protegê-la. — Você nunca mais vai passar por isso. Eu juro. Não enquanto eu estiver aqui.

Ela solta mais um soluço abafado, e seu corpo relaxa um pouco contra o meu. Passo a mão pelos seus cabelos, acariciando com ternura, enquanto ela se aninha em meu peito. Não quero que ela sinta medo, não quero que nenhuma memória maldita de Dário tenha mais poder sobre ela.

— Nunca mais ninguém vai te machucar dessa forma — continuo, com a voz grave, mas carregada de algo que vai além da promessa. É uma certeza. Uma declaração. Eu faria de tudo para garantir isso. — Eu estou aqui, Chiara, e nada, ninguém, vai te tocar assim de novo.

Ela ergue os olhos para mim, e vejo a fragilidade misturada com uma força inata, algo que ela talvez ainda não tenha percebido. A mesma força que a manteve viva em meio a tanto sofrimento. E porra, isso me destrói por dentro. Tudo que ela passou... a coragem de se abrir dessa forma.

— Eu confio em você, Dante — ela diz baixinho, sua voz ainda trêmula, mas firme. — Só você.

As palavras dela me atingem com um peso indescritível. Saber que, apesar de tudo, ela ainda pode confiar em alguém, me faz querer ser digno disso. Quero cuidar dela, protegê-la de cada sombra do passado que ainda assombra seus sonhos. Quero apagar as marcas de Dário, cada uma delas, e mostrar a ela que existe outro caminho. Um onde ela é livre. Onde ela controla seu próprio destino.

— E eu nunca vou trair essa confiança — respondo, segurando seu rosto entre as mãos, forçando-a a me olhar nos olhos. — Não enquanto eu respirar.

Ela respira fundo, o choro começando a se acalmar, mas ainda vejo a vulnerabilidade em seus olhos. E, ao mesmo tempo, algo mais. Algo que parece surgir lentamente, como uma faísca pronta para se transformar em chama.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora