SETENTA E TRÊS - CHIARA

44 13 2
                                    

Eu desconfio que Dante tenha me visto naquela situação embaraçosa, mas, se viu, não deu qualquer indício. Ele tem sido um verdadeiro cavalheiro, sem mencionar uma palavra sequer sobre o que aconteceu. Não que eu esperasse que ele fosse dizer algo, mas a tensão entre nós é palpável, quase sufocante. E agora, com Sofia fora por alguns dias, a ausência dela cria um espaço perigoso entre mim e Dante. Um espaço onde os olhares se prolongam demais, os silêncios se tornam carregados, e as distâncias parecem encurtar.

Os dias vão passando, e a proximidade entre nós cresce de forma insidiosa. Dante está sempre por perto, e o tempo que passamos juntos se estende. Há momentos em que me pego observando seus movimentos, sua postura firme, o jeito como seus músculos se contraem quando treina ou mesmo o modo casual com que ele segura um charuto. Tudo nele exala poder, uma masculinidade crua que me afeta de maneiras que eu não consigo controlar.

Certa tarde, estamos na sala de treinamento. Ele ajusta a minha postura enquanto seguramos as armas, e sua presença é tão intensa que me deixa tonta. Sinto o calor do corpo dele atrás de mim, as mãos grandes e seguras corrigindo meus movimentos, o hálito quente e próximo do meu ouvido.

— Está ficando melhor — ele sussurra, com a voz grave e rouca, enquanto desliza a mão pela minha cintura para ajustar a minha posição.

Minha pele se arrepia ao toque, e cada parte de mim entra em alerta. Tento manter o foco no treino, mas é impossível. Há uma eletricidade entre nós que está prestes a explodir. Meus pensamentos se misturam com o desejo que sinto por ele, e, porra, por mais que eu tente resistir, meu corpo reage por conta própria.

Ele dá um passo para trás, mas o magnetismo continua ali, forte, quase palpável. Nossos olhares se cruzam por um instante longo demais, como se ambos soubéssemos o que está acontecendo, mas nenhum de nós ousasse verbalizar.

Os dias sem Sofia tornam as coisas mais perigosas. A casa, antes grande e cheia de pessoas, parece menor, mais íntima. Os encontros casuais nos corredores, as refeições compartilhadas em silêncio, os treinos... tudo nos coloca cada vez mais perto de um limite que parece inevitável.

A tensão sexual é inegável. E por mais que eu tente me convencer de que nada vai acontecer, sei que estou jogando com fogo.

Durante o almoço, o ambiente está mais tranquilo do que de costume. O sol entra pelas grandes janelas da sala de jantar, e o som dos talheres é a única coisa que rompe o silêncio confortável entre nós. Ele está sentado na ponta da mesa, com os olhos fixos no prato à sua frente, enquanto eu tento manter minha mente no que está por vir. Mas sei que o momento é propício. Sinto a tensão de dizer o que venho pensando nos últimos dias, a necessidade de entregar o que guardei por tanto tempo.

Eu respiro fundo e solto as palavras antes que elas se percam na minha garganta.

— Precisamos ir buscar o diário — digo, minha voz baixa, mas firme. — Ele está perto do chalé de Dário, escondido. E tem informações que você precisa.

Ele ergue os olhos de imediato, um brilho de curiosidade e algo mais, algo que não consigo decifrar, mas que mexe com meu interior. O silêncio entre nós agora é denso, carregado de promessas e riscos. Ele coloca o garfo sobre a mesa e se inclina levemente, o olhar fixo em mim, atento a cada palavra que escapa da minha boca.

— Que informações? — ele pergunta, a voz grave, quase um sussurro.

— Tudo. Tudo que você precisa para derrubar aqueles filhos da puta de vez — continuo, sentindo a adrenalina tomar conta do meu corpo. — Provas dos negócios sujos, transações, nomes... está tudo lá.

Ele continua me encarando, e sinto o peso da responsabilidade aumentar. Dante é um homem de decisões rápidas, diretas. E eu sei que o que estou propondo não é algo que ele possa ignorar.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora