CENTO E NOVE - DÁRIO

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Estou em pé, as mãos cerradas, a fúria borbulhando sob a pele enquanto encaro Davide com um desprezo que mal consigo controlar. A expressão dele é fria, desafiadora, mas noto o brilho de algo quase infantil nos olhos. Como se não tivesse noção da gravidade do que acabou de fazer.

— Que merda tem na cabeça para sequestrar Sofia Cadore? — cuspo as palavras, cada sílaba impregnada de raiva contida. — Essa garota não é qualquer uma. É prometida a Dante Caputo. E filha de um dos homens mais poderosos do país. Se quis criar uma guerra, parabéns, conseguiu.

Ele se inclina contra a parede, braços cruzados, como se as palavras não passassem de uma irritação momentânea, algo fácil de ser ignorado. Isso só aumenta minha vontade de acertá-lo, de arrancar dele a arrogância que insiste em exibir.

— E daí? — Davide retruca, os lábios se curvando num sorriso debochado. — Caputo vai pensar duas vezes antes de tocar nos Fiore agora. Com ela nas nossas mãos, temos uma vantagem.

Solto uma risada amarga, passando a mão pelo rosto, tentando manter o controle. Ele realmente não entende. Esse jogo, essa disputa, não é brincadeira de poder entre moleques. Estamos mexendo com monstros, com figuras que não pensariam duas vezes antes de nos esmagar se acharem que é necessário.

— Acha que Caputo vai se intimidar? — pergunto, me aproximando até que só o suficiente para que ele sinta a ameaça em minha voz. — Esse bastardo vai querer nossa cabeça numa bandeja. E o pai dela? O velho Cadore não vai perdoar isso, Davide. Estamos provocando duas serpentes de uma só vez. Sequestrar Mariela e Massimo já nos custou a vida de Diógenes. Você fodeu tudo de vez, seu imbecil.

Ele recua um pouco, talvez pela primeira vez percebendo o peso da escolha que fez. Mas sua arrogância, como sempre, é mais forte do que a razão.

— Precisávamos de uma vantagem. Algo que eles não pudessem ignorar.

Sinto o sangue ferver, o impulso de arrancar Davide dali, de fazer com que entenda o desastre que começou.

— Se queria uma vantagem, então deveria ter pensado em outra coisa. Isso é um convite ao caos, um jogo que pode nos destruir.

Ele tenta manter a postura, mas vejo o receio piscando por um breve instante nos olhos dele. Isso é mais do que imaginava.

— Já foi feito, Dário. Agora, temos que pensar no próximo passo.

Eu me aproximo, prendendo-o com um olhar que faz a tensão explodir entre nós.

— O próximo passo? O próximo passo é esperar o inferno que vai cair sobre nós. Espero que esteja preparado, irmão, porque isso aqui... — seguro o rosto dele, obrigando-o a me encarar — ...não termina bem pra ninguém.

Ele se afasta, mas a raiva ainda brilha em seus olhos. Sei que minhas palavras ficaram gravadas, mas o estrago já está feito. Esse erro... esse maldito erro de Davide vai custar caro.

Me afundo na cadeira, esfregando o rosto, tentando processar a insanidade em que nos metemos. Não bastasse o peso de ter Sofia Cadore sob nosso poder, agora preciso lidar com a impulsividade de Davide e a estupidez de Donatello. Respiro fundo, tentando encontrar algum resquício de calma, mas a porta se abre bruscamente, e Donatello entra, arrastando a garota pelos cabelos, os olhos faiscando de fúria.

Ela cambaleia, o corpo frágil mas com uma resistência impressionante, o queixo erguido em desafio, mesmo com a dor evidente. É uma visão intrigante — aquela maldita, com o rosto marcado pela resistência e, ao mesmo tempo, uma beleza quase angelical. Uma beleza que contrasta com o caos e a escuridão em que estamos mergulhados. Donatello a empurra, e ela cai de joelhos, mas, mesmo assim, o olhar dela permanece desafiador, queimando com uma raiva que beira o desprezo.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora