CINQUENTA E OITO - CHIARA

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Acordo com uma dor lancinante percorrendo cada centímetro do meu corpo. O peso da consciência volta lentamente, como se meu cérebro estivesse lutando para emergir da escuridão. Não estou morta, porque se estivesse, certamente não sentiria essa dor brutal. Cada osso, cada músculo, parece ter sido destroçado, mas há algo suave sob mim. Uma cama. E não aquela superfície fria e dura da masmorra. Algo macio, confortável.

Abro os olhos com dificuldade, piscando contra a luz suave do quarto. Tento mover meus braços, mas algo os impede. Um tubo de soro está conectado ao meu braço, preso com uma fita delicada, em nada parecido com as algemas que me torturavam antes. A visão turva me revela a figura de uma sala mais limpa, mais organizada, muito diferente do inferno de onde eu vim.

A memória da noite anterior invade minha mente como um pesadelo acordado. A fuga, o alarme, os berros, a pancada. Tudo volta como um turbilhão, e por um segundo, temo estar de volta nas garras daquele monstro. Mas algo está diferente. O ar aqui é mais calmo, o ambiente menos opressor. Respiro fundo, tentando conter o medo crescente que ameaça me sufocar.

Tento me mover, mas o corpo se recusa. Um gemido escapa dos meus lábios secos, e o som parece ecoar pelo quarto silencioso. Não sei onde estou, nem como cheguei aqui. Meu último momento de consciência foi o chão gelado da sarjeta, o frio penetrante tentando terminar o que Dário havia começado. Lembro-me da dor, do ódio, da esperança desesperada de que aquilo fosse o fim.

Mas não acabou. Estou viva, de algum modo. Respiro, meu coração ainda bate, mesmo que machucado. E agora, deitada nesse quarto desconhecido, uma pergunta lateja na minha cabeça: quem me trouxe para cá? E por quê?

O medo é esmagador, mas algo dentro de mim, uma faísca de sobrevivência que se recusa a morrer, se acende. Estou viva, e enquanto meu coração bater, enquanto eu puder abrir meus olhos, ainda há uma chance.

Fecho os olhos por um instante, tentando reunir forças. Seja quem for que me trouxe aqui, preciso descobrir suas intenções.

A porta se abre com um rangido leve, e o som faz meu coração saltar no peito. Meu corpo dói, cada músculo grita de exaustão, mas me forço a erguer os olhos para a figura que entra. Ele é alto, imponente, com passos firmes e controlados. Seus olhos negros me encaram com uma intensidade que me faz estremecer. Pela arma que reluz no coldre ao seu lado, sei que estou em maus lençóis. Não há dúvidas de que este homem é perigoso.

Eu deveria estar acostumada a isso, a ser encarada como algo a ser dominado, usada. Mas há algo diferente neste olhar. Ele não me vê como uma presa, mas como algo... mais. Não sei o que esperar, e minha mente ainda está um caos, mas sei que a violência está sempre a um passo de distância neste mundo.

Ele se senta em uma poltrona ao lado da cama, os dedos brincando distraidamente com o braço do móvel, e meu corpo enrijece. Não consigo mais conter a amargura e o desespero que vêm à tona. Já estou farta de jogos de poder, farta de ser a peça movida por mãos alheias.

— Faça logo o que quiser — murmuro, minha voz rouca, sem forças para resistir. É uma entrega forçada, o último resquício de uma luta que sei que perdi há muito tempo.

Ele ri, e o som é inesperadamente caloroso, quase uma zombaria suave. Um riso que desarma.

— Eu não sou um estuprador — diz, as palavras saindo com uma naturalidade desconcertante, como se não houvesse mais nada a esclarecer sobre sua moralidade. — E meu nome é Dante Caputo.

O nome ressoa em minha mente, como um sino ecoando nas profundezas de um poço. Dante Caputo. O maior inimigo de Dário. Quase rio de pura ironia. Tive de passar pelo inferno, para chegar nas mãos daquele que meu algoz mais teme. Uma pontada de satisfação distorce a minha dor. Se há um destino pior para Dário do que ser traído, é ser derrotado pelo homem à minha frente.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora