OITENTA E SETE - DANTE

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O toque do meu celular corta o clima descontraído. Olho para a tela e vejo o nome de Ettore, meu irmão. Atendo sem hesitar, já sentindo a tensão no ar antes mesmo de ouvir sua voz. Ele não me liga assim, sem motivo. Algo está errado.

— A casa foi invadida, irmão — a voz de Ettore sai grave, sem rodeios. — E o pior: foi com a ajuda de alguém de dentro. Alguém que conhece a tua rotina.

Meu corpo enrijece, o ar ao meu redor parece mudar, e por um momento, o som do mar que nos rodeia desaparece, deixando apenas o ruído surdo da traição ecoar na minha mente. Alguém de dentro... Porra! Trair os Caputo é assinar uma sentença de morte. Quem seria idiota o suficiente para fazer isso?

— Quem, Ettore? — minha voz sai controlada, mas sinto o ódio pulsando nas minhas veias. — Quem teve a coragem de nos trair?

Há um silêncio do outro lado da linha, como se ele estivesse relutante em dizer, ou talvez ainda tentando descobrir. Sei que Ettore está fazendo o possível para não lançar suspeitas sem provas. Nosso mundo não é gentil com os que traem, e muito menos com os que erram nas acusações.

— Ainda estamos investigando — ele diz, e posso sentir a frustração na sua voz. — Mas já sabemos que o desgraçado conhece cada detalhe da tua rotina. Sabia que você estaria fora, que a segurança estaria mais relaxada... e eles entraram. Levaram alguns documentos, mas ainda estamos checando os estragos.

Minha mente trabalha rápido. Documentos? Minha casa deveria ser o lugar mais seguro da cidade. Quem seria louco o suficiente para tentar isso? Chiara me olha de relance, sentindo a mudança no ar. Ela não pergunta nada, mas a preocupação em seus olhos me diz que sabe que algo sério aconteceu.

— Fica de olho em tudo — ordeno, ainda processando a traição. — Vou voltar o quanto antes. Me atualiza de qualquer coisa que descubra.

Desligo o telefone e por um momento, fico ali, parado, segurando o aparelho enquanto o ódio ferve dentro de mim. Eu sabia que lidar com os Fiore era arriscado, mas ter alguém de dentro, alguém que deveria ser leal a mim, traindo... isso é imperdoável.

— Problemas? — Chiara pergunta, a voz baixa, mas atenta. Ela sabe que não sou de explodir, mas pode sentir a tempestade que está prestes a cair.

— Mais do que problemas — digo, os olhos fixos no horizonte. — Alguém dentro da nossa organização nos traiu. Invadiram a minha casa.

Os olhos de Chiara se arregalam levemente, mas ela mantém a compostura. Tento me acalmar por um segundo, mas a raiva está ali, pronta para transbordar a qualquer momento. Traição é o pior tipo de crime no nosso mundo, e quem ousa quebrar esse pacto merece ser exterminado.

— Vamos descobrir quem foi — ela murmura, a voz calma, mas cheia de determinação. — E vamos fazer essa pessoa pagar. Eu vou estar do teu lado, não importa o que aconteça.

Olho para ela e, por um breve momento, o turbilhão de emoções que me domina se aquieta. Sei que Chiara está comigo. Ela entende as regras desse jogo, e mais do que isso, ela sabe o preço de ser traído. Sinto o ódio e o desejo de vingança borbulharem novamente, mas agora há algo mais — uma determinação fria e calculada.

— Não vamos apenas descobrir — respondo, minha voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma promessa mortal. — Vamos eliminar cada um deles. E quem nos traiu vai desejar nunca ter nascido.

Chiara se enrosca em mim, o corpo quente pressionado contra o meu, seus lábios próximos ao meu ouvido, sussurrando de forma provocante, como quem conhece exatamente o efeito que causa. Sua voz é um doce veneno, e o toque de sua mão deslizando pelo meu peito faz meu corpo reagir de imediato.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora