Ele me arrasta com brutalidade, os dedos cravados no meu braço como garras, e cada passo é uma descida mais profunda para o inferno que ele planeja para mim. A masmorra é escura, úmida, e o frio é cortante. Estou seminua, o vestido rasgado, a pele exposta ao ar gelado. Mas não tremo, não demonstro fraqueza, nem por um segundo. Se ele espera que eu chore, que implore... vai se decepcionar. Já conheci o desespero antes, já sobrevivi à indiferença de quem deveria me proteger. Isso aqui é só mais um teste.
Sou jogada no chão de pedra com uma força que reverbera pelo meu corpo, mas não deixo escapar um gemido. Ergo o rosto, encaro as paredes frias e o metal corroído ao meu redor, sentindo o gosto amargo do sangue ainda no canto da boca. Penso em Mariela, minha irmã que eles arrancaram de mim. Ela, a filha perfeita, criada para ser a doce esposa de um Dom, para enfeitar o braço de algum homem poderoso enquanto cumpria seu papel de dama silenciosa. Era essa a expectativa dela, o sonho que meu pai e minha mãe cultivaram como se fosse uma flor rara.
Mas comigo, tudo foi diferente. Eu fui esquecida, deixada de lado, uma peça sobressalente até que a morte dela me trouxe para a superfície. Foi só quando Mariela deixou de ser útil que meus pais se lembraram de que existia outra filha. Uma substituta. E ali, naquele instante, compreendi que, para sobreviver, eu teria que ser mais do que uma peça de reposição. Teria que ser algo que ninguém esperava. Alguém forte.
Fecho os olhos por um segundo, respirando fundo, sentindo o ar frio entrar em meus pulmões e fortalecer algo dentro de mim. Não sou Mariela. Não fui criada para ser o enfeite de ninguém. Minha existência, meu sangue, são uma promessa de resistência. E, agora, me torno o espinho que eles não conseguem arrancar.
Ouço passos se afastando, o som de uma porta trancando. Ele acha que me subjugou, que essa cela vai me quebrar. O tolo ainda não entendeu o erro que cometeu ao me subestimar. Eles todos ainda não entenderam.
A sensação do metal gelado contra a pele é um lembrete da minha situação, mas, ao mesmo tempo, um incentivo para não recuar. Sinto que estou vivendo pela primeira vez a verdadeira essência do que fui moldada a ser. Vou resistir. Vou suportar tudo o que eles jogarem contra mim. E, no final, vou ser o motivo do pesadelo deles.
Levanto-me e sento no catre duro, o frio da pedra atravessando minha pele. Perdi o homem que amei, o único que fez meu coração bater mais forte. Agora estou prometida a alguém que claramente me despreza. Lembro-me da única vez em que ele me visitou; seus olhos percorreram meu corpo com indiferença calculada antes de dizer:
— Pelo menos é bonita o suficiente para esquentar minha cama.
As palavras dele ainda ecoam na minha mente, um misto de humilhação e raiva que não consigo afastar. Não sou um objeto, uma peça de negociação nesse jogo sujo de poder entre famílias. Mas aqui estou, presa nesta masmorra gelada, seminua e sozinha.
Respiro fundo, tentando encontrar força dentro de mim. Enquanto Mariela foi criada para ser a doce esposa de um Dom, moldada para a perfeição submissa, fui deixada de lado, esquecida pelos meus próprios pais. Só me tornei relevante quando ela foi morta, quando precisaram de uma substituta. Essa indiferença me forjou, fez de mim alguém forte, resistente às tempestades que a vida insiste em lançar.
O silêncio aqui é opressor, mas me recuso a ceder ao desespero. Não vou dar a eles o prazer de me ver quebrada. Levanto-me e caminho pela pequena cela, meus pés descalços contra o chão gelado, cada passo um lembrete da realidade cruel em que me encontro.
Fecho os olhos e permito que as lembranças invadam minha mente. O toque de Dante, seu olhar intenso que sempre parecia enxergar além das máscaras. Mas ele se foi, e agora estou à mercê de um homem que me vê apenas como um troféu, uma conquista sem valor real.
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Resgatada pelo mafioso - Livro Um
RomanceEsse é um romance dark com abuso físico e verbal explícitos. Se esses assuntos são gatilhos para você, a leitura não é recomendada. Chiara Valentini é arrastada para o submundo implacável da máfia aos dezessete anos, quando seu próprio pai a entreg...