A casa de Donatello está vibrante, cheia de gente rindo e conversando, celebrando a chegada de Estela. Meu irmão não consegue disfarçar a felicidade, segurando a filha no colo como se ela fosse um troféu. Estela, com seus olhos brilhando de inocência, é o centro do universo dele. Para Donatello, nada mais importa.
Encosto-me em uma das colunas, observando de longe. Não é segredo que Donatello é obcecado pela filha. Ele ignora tudo e todos ao redor, inclusive a esposa. Nada o faz desviar o foco de Estela. Essa obsessão cega, esse amor doentio, é a única coisa que parece genuína nele.
— E aí, Dário? Impressionado com o espetáculo? — Diógenes se aproxima, com um sorriso malicioso nos lábios. Ele pega uma taça de vinho de uma bandeja que passa e dá um gole, observando a cena com o mesmo desprezo que eu.
— O reinado de Donatello e sua princesa. — murmuro, meio que para mim mesmo, mas Diógenes ouve e ri com aquele tom sarcástico de sempre.
— Ele acha que o mundo gira em torno daquela garota. Estela o tem nas mãos. — Diógenes debocha, inclinando-se contra a coluna ao meu lado. — Nunca vi um cara tão fraco quando se trata de uma criança.
Dou de ombros, mas não posso negar que ele está certo. Donatello sempre foi patético em muitos aspectos, mas quando se trata de Estela, ele perde qualquer resquício de razão. A festa continua, as risadas e as conversas enchendo a casa, mas meus olhos ficam fixos na interação entre meu irmão e sua filha. Ele sussurra algo no ouvido dela, e o som do riso infantil preenche o ar, cortando o barulho da festa como uma navalha.
— Vai lá falar com ela? — Diógenes pergunta, percebendo meu olhar.
— Pra quê? — respondo, seco, sem tirar os olhos de Estela. — Prefiro assistir de longe.
Diógenes ri de novo, um som que é mais cínico do que qualquer coisa, enquanto dá outro gole no vinho. Ele entende tão bem quanto eu o tipo de espetáculo que estamos presenciando.
Donatello se aproxima com Estela ainda no colo, como se fosse um troféu de ouro. Seus olhos encontram os meus por um breve momento, e há algo lá — talvez um misto de orgulho e desconfiança. Como se ele soubesse que, por mais que tentasse, nunca poderia esconder a verdade.
— Vai pegar leve hoje, Dário? — ele provoca com um sorriso que é mais uma máscara do que uma expressão genuína.
— Relaxa, irmão. — respondo, com um sorriso frio. — Estou só aqui pela festa.
Estela vira o rosto em minha direção, sorrindo com aquela inocência de quem ainda não tem ideia do mundo em que vive. Um sorriso que me lembra que ela não faz ideia da podridão que rodeia sua vida. Não ainda.
Mas, eventualmente, todos aprendem.
Davide se aproxima cambaleando, o rosto vermelho de tanto beber, o hálito forte de álcool denunciando o quanto ele já passou do ponto. Ele segura um copo meio vazio de uísque, o líquido dourado balançando enquanto ele tenta manter o equilíbrio. A festa está em pleno vapor, mas ele não parece mais interessado na celebração.
— Quer saber, Dário... — ele começa, a voz arrastada e venenosa. — Eu tenho certeza de que o Donatello tá comendo a própria filha.
As palavras saem como um soco no estômago, pesadas e nojentas. Meu corpo fica tenso imediatamente. Mesmo em nosso mundo, onde o pecado é rotina e a moralidade é algo deturpado, o que Davide acabou de insinuar é doentio demais para ser ignorado. Eu encaro meu irmão, tentando decifrar se aquilo é só conversa de bêbado ou se há alguma verdade oculta naquela provocação.
— Cala essa boca, Davide. — Minha voz sai baixa, mas carregada de ameaça. — Nem você é tão podre a esse ponto.
Ele dá uma risada amarga, um som áspero que parece rasgar o ar.
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Resgatada pelo mafioso - Livro Um
RomanceEsse é um romance dark com abuso físico e verbal explícitos. Se esses assuntos são gatilhos para você, a leitura não é recomendada. Chiara Valentini é arrastada para o submundo implacável da máfia aos dezessete anos, quando seu próprio pai a entreg...