CENTO E QUATRO - CHIARA

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Estou sentada no quarto, a penumbra da noite já invadindo a cobertura, enquanto o silêncio ao meu redor parece sufocar meus pensamentos. A cidade de Nápoles está lá fora, viva e pulsante, mas aqui dentro, tudo parece estagnado, como se o tempo estivesse suspenso. Tento me concentrar em algo — qualquer coisa — para afastar a preocupação que se instalou dentro de mim desde que Dante saiu para a troca. Sei que ele é forte, capaz, implacável quando precisa ser. Mas, ainda assim, não posso evitar o nó de ansiedade que se forma em meu peito.

Me levanto da cama, os lençóis de seda deslizando pelo meu corpo como um suspiro. Estou vestida com uma camisola fina, quase transparente, que Dante me deu dias atrás. O tecido frio contra minha pele só me faz sentir mais consciente da ausência dele. Caminho até a janela, observando as luzes distantes da cidade, as ruas movimentadas lá embaixo que parecem tão longe da realidade que vivo agora. Meu reflexo no vidro me parece estranho, quase irreconhecível. A mulher que vejo ali já não é a mesma de antes. E sei que a razão está do lado de fora, enfrentando o perigo a cada momento.

O som da porta se abrindo atrás de mim interrompe meus pensamentos. Me viro rapidamente, o coração acelerado, mas ao vê-lo ali, meu corpo relaxa quase que instantaneamente. Dante entra no quarto com passos firmes, o olhar intenso que tanto me fascina e intimida ao mesmo tempo. Ele está mais sério do que o normal, mas há um alívio perceptível em sua postura. Sei que a troca ocorreu, mas preciso ouvir isso de sua boca.

— Acabou — ele diz, com a voz grave, enquanto fecha a porta atrás de si. — A troca foi feita. Sem problemas. Estela por Valentina e Antonella.

Sinto meu corpo finalmente relaxar de verdade. O peso da tensão que vinha carregando parece se dissolver, e eu solto um suspiro que nem percebi que estava segurando. Aproximo-me dele, meus pés descalços fazendo barulho suave contra o chão de madeira.

— E elas estão bem? — pergunto, minha voz saindo mais suave do que eu esperava.

Dante assente, seus olhos buscando os meus. Ele sempre tem esse olhar penetrante, como se pudesse ver além de qualquer barreira que eu possa levantar. Mas essa é a nossa conexão. Intensa, crua e sem máscaras.

— Estão — ele responde. — Ettore e Lorenzo vão garantir que elas voltem para as suas famílias em segurança. Tudo foi feito de forma pacífica, apesar da tensão.

Observo o rosto dele por um momento, buscando sinais de cansaço, de preocupação. Mas Dante é uma fortaleza. Ele não se deixa abalar facilmente, mesmo quando está no centro do caos. É uma das razões pelas quais ele se tornou o homem que é. Mas eu sei que, por dentro, ele carrega o peso de todas as decisões, de todas as ações que precisam ser tomadas.

— Fico feliz que tenha dado tudo certo — digo, dando mais um passo em sua direção até que estou a apenas alguns centímetros de distância. Sinto o calor dele irradiando para mim, e isso me acalma de uma maneira que nada mais consegue. — Eu estava preocupada.

Ele me olha com aquele sorriso leve, quase imperceptível, que é reservado apenas para momentos como este, quando estamos sozinhos, longe dos olhos de todos os outros. Um sorriso que me faz sentir que, de alguma forma, sou sua âncora, assim como ele é a minha.

— Eu sei — ele diz, baixando o tom de voz. — Mas agora acabou. Pelo menos por enquanto.

Há algo na maneira como ele fala que me faz perceber que, mesmo com a troca realizada, o perigo ainda paira no ar. Nosso mundo nunca está livre de riscos, e sempre haverá algo novo surgindo, ameaçando desestabilizar o equilíbrio frágil que mantemos. Mas, por agora, podemos ter esse momento de paz.

Dante se aproxima ainda mais, suas mãos grandes e quentes encontrando minha cintura, puxando-me suavemente contra seu corpo. Sinto a força dele ao meu redor, e, ao mesmo tempo, a ternura que ele só revela nesses momentos íntimos. Apoio a cabeça em seu peito, ouvindo o som constante e reconfortante de seu coração. Cada batida parece me acalmar, me lembrando de que estamos aqui, juntos, e que, por mais sombrio que nosso mundo possa ser, encontramos refúgio um no outro.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora