NOVENTA E NOVE - DANTE

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Depois do momento de pura intensidade, o quarto mergulha em um silêncio acolhedor. O ar ainda carrega o cheiro de desejo, mas agora há uma calma entre nós, uma trégua que só vem depois de saciar necessidades tão profundas quanto aquelas que acabamos de explorar. Nos aconchegamos na cama, os lençóis macios envolvendo nossos corpos enquanto ela se aninha contra mim, a cabeça repousando em meu peito. Minhas mãos deslizam suavemente pelas costas dela, sentindo sua pele quente sob meus dedos, enquanto tento deixar minha mente se acalmar junto com o ritmo desacelerado de sua respiração.

Por alguns minutos, ficamos em silêncio, o mundo lá fora parece distante, quase inexistente. O calor do corpo dela contra o meu é um consolo que não sabia que precisava até agora. É como se, por um instante, tudo o que me persegue pudesse ser deixado do lado de fora dessas quatro paredes.

Ela levanta a cabeça e me olha com aqueles olhos grandes, ainda brilhantes pelo que acabamos de compartilhar. Mas agora há uma preocupação nítida em sua expressão, uma leitura cuidadosa do meu rosto que ela faz com uma delicadeza que me desarma.

— O que te deixou tão tenso? — ela pergunta, a voz suave, quase hesitante, como se soubesse que está pisando em terreno perigoso. Ela não precisa dizer mais nada, apenas a pergunta ressoa no ar, uma tentativa de penetrar a muralha que construí em torno de tudo o que acontece fora desse quarto.

Fecho os olhos por um momento, lutando contra o desejo de não responder. A tensão em meu peito retorna, apertando o ar nos pulmões. As imagens dos últimos dias, das ligações, das ameaças veladas, tudo isso volta com força. Abro os olhos lentamente, sem me afastar dela, mas há algo em mim que se endurece novamente. Não é contra ela, mas contra tudo o que nos cerca.

— É difícil explicar — começo, sabendo que uma parte de mim quer mantê-la fora de tudo isso. Mas também sei que ela já está envolvida, quer eu queira ou não. — As coisas estão se complicando. Não estamos mais seguros. Há pessoas, inimigos... quem deveria proteger não está mais fazendo o trabalho deles. E isso me deixa... inquieto.

Ela me observa atentamente, seu rosto próximo ao meu, seus dedos traçando pequenos círculos sobre meu peito enquanto absorve minhas palavras. A preocupação em seus olhos aumenta, mas há algo mais ali, um entendimento silencioso. Ela sabe o que significa viver nesse mundo, mesmo que não saiba todos os detalhes.

— Algo aconteceu? — ela insiste, a voz mais baixa agora, quase como se tivesse medo da resposta.

Suspiro, meu olhar se perdendo por um momento no teto antes de voltar para ela.

— Ettore fez uma besteira. Ele sequestrou alguém... uma garota importante. Isso colocou todos nós em risco. As coisas estão prestes a ficar muito mais perigosas do que já estavam.

Ela absorve a informação, e eu posso ver o impacto em seus olhos. Não há pânico, mas sim uma aceitação silenciosa, como se ela já esperasse algo assim. Eu conheço essa expressão, é o mesmo tipo de resignação que carrego há anos. Viver nesse mundo é viver com o peso constante do perigo, mas às vezes, mesmo para nós, o peso se torna insuportável.

— Vamos ficar bem? — ela pergunta, e há uma vulnerabilidade em sua voz que raramente vejo. A força que normalmente exibe parece temporariamente apagada, substituída por um desejo simples de segurança.

Seguro o rosto dela entre minhas mãos, puxando-a para mais perto, meus olhos presos aos dela. — Vou fazer tudo o que puder para garantir isso. Prometo.

Ela me olha por um longo momento, como se estivesse pesando a credibilidade das minhas palavras, e então finalmente relaxa, seu corpo se derretendo novamente contra o meu. O peso de minha promessa não é algo que levo levianamente, mas sei que é a única coisa que posso oferecer agora.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora