CENTO E SETE - DANTE

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sar constante do meu próprio peito. Estou ali, com um braço em torno de seu corpo, enquanto observo as primeiras sombras do amanhecer se infiltrarem pelas frestas da cortina, iluminando-a de forma sutil, quase como uma lembrança de que, mesmo na calma, o perigo se aproxima. Tento relaxar, mas meu instinto se mantém alerta, cada som que ecoa pelo apartamento parece um sinal que só eu ouço.

A verdade é que as coisas estão calmas demais. Os Fiore silenciaram, e a quietude deles incomoda mais do que qualquer movimentação explosiva. — Isso não é o estilo deles — murmuro, quase sem perceber, enquanto deslizo a mão suavemente pela curva de sua cintura, notando como o corpo responde, mesmo em meio ao sono. Um suspiro escapa de seus lábios, e por um instante, há uma paz que me atordoa. É uma paz que não sei se deveria existir.

— Está tão quieto... quase como o silêncio antes da tempestade. — Meu sussurro parece se perder no quarto, misturado ao calor que emana dela, mas é uma advertência para mim mesmo. Tenho que permanecer em alerta. Ninguém fica imóvel sem motivos, e os Fiore sempre têm uma carta na manga, um plano sussurrado nas sombras.

Me viro, observando o rosto dela repousando em meu peito, tão vulnerável, tão confiante em minha proteção. Mas até que ponto essa proteção é suficiente? Noto o leve rubor em sua pele, os traços de um cansaço que se intensifica mais a cada dia, e uma fúria silenciosa cresce dentro de mim. Como se o silêncio ao nosso redor fosse uma provocação direta, um convite a baixar a guarda.

— O que quer que estejam planejando, que venham — digo, mais para mim do que para ela, sentindo o peso da responsabilidade e do desejo se entrelaçarem numa tensão quase sufocante.

Ela abre os olhos devagar, ainda envolta no sono, mas já alerta ao mínimo movimento, como se pudesse sentir a inquietação que pulsa sob minha pele. Por um instante, seus olhos me prendem, e há um misto de curiosidade e receio ali, como se desconfiasse do peso que carrego no olhar.

— O que foi? — ela murmura, a voz ainda embriagada pelo sono, mas atenta. — Não consegue dormir?

Respiro fundo, deixando escapar uma risada breve, que escurece o ambiente. Sento na cama, deslizando os dedos pela borda do lençol. Ela me observa, a expressão de quem sabe que, por trás do meu silêncio, há uma tempestade se formando, uma que nem o toque dela consegue acalmar.

— Os Fiore... estão quietos demais — digo, lançando o olhar para a janela, onde as primeiras luzes da manhã insinuam uma calmaria que me parece quase uma afronta. — Nunca confiei em silêncio. Não vindo deles.

Ela se endireita na cama, puxando o lençol para cobrir-se enquanto se aproxima, encostando-se ao meu ombro com um gesto quase ingênuo, mas que esconde uma determinação feroz.

— E o que você acha que eles estão tramando?

Meu riso é baixo, quase inaudível, e passa por ela como um arrepio.

— Isso é o que vou descobrir. Mas, até lá, ninguém pode baixar a guarda. Não eu... e muito menos você.

Seus olhos encontram os meus, e há um brilho ali que me desafia.

— Talvez eles estejam apenas esperando. Como nós — sussurra, mordendo o lábio de leve, como se houvesse um sabor desconhecido no ar, algo que ela sente o impulso de provar. A tensão entre nós se intensifica, uma corrente elétrica que oscila entre o perigo e o desejo, e por um instante, tudo o que quero é esquecer o mundo lá fora e afundar naquele calor.

— Esperar não faz parte do meu vocabulário — murmuro, deslizando os dedos pela curva de seu rosto, inclinando-me para que minha respiração se misture à dela. — Isso... aqui, agora, é o único silêncio que me interessa.

Resgatada pelo mafioso - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora